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4/27/2022

Modelo de diário de bordo

 

Diário de bordo (Semana 1 -  de 31/03 a 05/04)

Nesta semana realizei o download do PDF da leitura do livro da semana, a medida em que lia ia marcando os trechos que jugava importantes. No livro “conceitos fundamentais” pude aprender sobre a definição de epistemologia e sobre como ela se define como ciência, uma vez que possui o seu próprio objeto de estudo, aprendi um pouco mais sobre EP (educação profissional). Aprendi ainda sobre o conceito de tecnologia, tomei conhecimento do fato de que a tecnologia é em si uma ciência e também foi possível conhecer um pouco das ideias de seus principais teóricos. Depois de lido o PDF fui até a plataforma e assistir a vídeo-aula disponibilizada pelo professor.

Nessa mesma semana dei início ao processo de realização do relatório da atividade integradora, para tanto fiz a leitura das orientações disponibilizadas pelo professor na plataforma, na oportunidade também fiz a observação do modelo de relatório da atividade integradora, também disponibilizado no ambiente virtual de aprendizagem. Depois de lida as orientações e observado o modelo de relatório decidi criar um arquivo Word a partir do modelo disponibilizado na plataforma, editei-o, de maneira que ficasse com algumas linhas embaixo de cada pergunta/sugestão, e me dirigi até uma gráfica para imprimir o documento, pois considerei que com o papel em mãos seria mais prático para anotar qualquer coisa que seja do meu interesse durante a entrevista.

 

Diário de bordo (Semana 2 - de 06/04 a 12/04)

Nesta semana efetuei a leitura do material da disciplina referente à semana 2. Comecei fazendo o download do texto “o saber-fazer do trabalho e sua incorporação”. Essa leitura foi qualquer coisa de reveladora, pois lançou luz sobre uma questão para a qual ainda não havia atentado, trata-se do fato de que os saberes adquiridos no trabalho também são saberes intelectuais.

Outra conclusão fascinante proposta pelo autor é a ruptura com o dualismo clássico entre mente/corpo e teoria/prática, uma vez que é possível considerar que na verdade essa dicotomia seja uma ilusão teórica que se ossificou no nosso imaginário coletivo. O autor propõe que corpo e mente, são, na verdade, um elemento apenas e que existem como uma mesma unidade.

Além dessa primeira leitura decidi me aprofundar ainda mais no assunto e para tanto lancei mão das leituras complementares cujos links foram disponibilizados pelo professor na plataforma de ensino. Comecei pela resenha “A razão das emoções: um ensaio sobre os erros de Descartes”. O texto faz um apanhado dos principais pontos abordados por António Damásio em seu instigante livro “O erro de Descartes” onde o autor põe em xeque a perspectiva cartesiana que sugere que razão e emoção orbitam em campos opostos. Para Damásio, na verdade, razão e emoção são elementos indissociáveis e até mesmo indistintos.

Na esteira das abordagens de Damásio George Lakoff e mark Johnson apontam para o que seria uma “corporificação” da mente. Na obra “Philosophy in the flesh: the embodied mind and its challenge to westen thought” os autores alegam que a mente está estruturada a partir do que denominam de “experiências corporais”, nessa perspectiva a mente não é uma entidade que funciona “a parte”, pelo contrário, as suas funções estão diretamente condicionadas ao corpo que também é mente, pois também age, toma decisões, senti e pensa.

Por fim, mas não menos importante, a última leitura complementar da aula dessa semana trata da resenha do livro “O saber no trabalho”, de Mike Rose. A exemplo da primeira leitura o autor faz uma investigação sobre os saberes que são construídos a partir do trabalho manual de alguns profissionais. Na verdade, Mike Rose rompe com uma velha tradição de se enxergar o trabalho braçal como uma atividade meramente desprovida de intelecto, para este autor essa ideia se provará um engano, porque é no cotidiano do trabalho que muitas habilidades são desenvolvidas, habilidades que não poderiam ser notadas ou sequer cogitadas nos cursos de qualificação, mas só podem apreendidas a partir do próprio exercício da profissão. Depois de lidos todos os textos disponibilizados na plataforma pude assistir as vídeo-aulas disponibilizadas pelos professores.

 

Diário de bordo (Semana 3 -  de 13/04 a 19/04)

Comecei os estudos dessa semana a partir da leitura dos textos disponíveis na plataforma, li o texto sobre “a interdisciplinaridade como pressuposto epistemológico” e depois fiz a leitura do texto cujo título é “A interdisciplinaridade na construção de competências profissionais”. Feito isso partir então para os vídeo-aulas.

Considerei de fundamental importância a fala do professor Gustavo Henrique Moraes sobre a interdisciplinaridade como elemento importante ao se construir o saber na educação profissional e tecnológica. Ele inda falou da necessidade de se aproximar os diversos campos do saber, salientou que a interdisciplinaridade não é somente uma estratégia didática, mas que principalmente ela tem a ver com o envolvimento de diversos campos do saber e que é bem mais ampla e abrangente, sendo na realidade uma espécie de epistemologia.

Depois de assistir a primeira vídeo-aula da semana três e de ter lido o material de apoio referente ao comentário do professor Gustavo Henrique Moraes, pude enfim assistir a vídeo-aula dois, cujo título é “A interdisciplinaridade na construção de competências profissionais”. Na oportunidade o professor Oliver Allain destacou em sua aula as diversas noções do conceito de competência. Dentre os muitos aprendizados que pude extrair dessa aula destaco a excelente colocação do professor ao dizer que os saberes-fazeres acontecem a um só tempo e não são compartimentados como as disciplinas ensinadas nas escolas. As competências não estão apartadas do contexto histórico, social, econômico e profissional do indivíduo.

 

Diário de bordo (Semana 4 -  de 20/04 a 26/04)

A leitura desta semana foi fundamental para poder me apropriar de alguns conhecimentos. Foi importante conhecer um pouco a história da EPT- Educação Profissional e Tecnológica no Brasil. Chamou a atenção, especialmente, o fato de que a coroa portuguesa inviabilizou, num primeiro momento, o florescimento de uma indústria realmente consolidada na colônia brasileira em favor dos cultivos (plantations) e isto impossibilitou a diversificação de ofícios e a evolução das técnicas de industrialização.

Igualmente interessante foi a descoberta de que Araújo Porto-Alegre foi uma figura decisiva para o avanço da EPT- educação profissional e tecnológica no Brasil por ocasião de sua gestão na Academia Imperial de Belas Artes. Ele entendia que era fundamental que outras pessoas soubessem outros ofícios que não tivessem a ver necessariamente com o serviço público. Para tanto, ele precisou implementar um ensino com novos cursos.

Uma outra tendência de ensino surgiu no Brasil por essa época, tratava-se do “bacharelismo”. Os cursos de bacharéis não estavam disponíveis aos trabalhadores comuns e nem aos seus filhos, pois vale lembrar que por essa época não havia a possibilidade de ascensão social através da educação, na verdade os cursos de bacharéis eram dedicados exclusivamente aos filhos de fazendeiros, oficiais ou comerciantes. O culto ao bacharelismo não deixou a posteridade ilesa, pois é dela que advêm a tradição elitista e equivocada de que o bacharel é o sujeito mais qualificado para exercer os cargos de liderança.

A EPT no Brasil só oficializada de fato quando da gestão do presidente Nilo Peçanha que em seu mandato criou a Escola de Aprendizes Artífices (EAA). Contudo ao fazê-lo ele também criou o que entende hoje como Rede Federal de Educação Tecnológica e a partir daí criou-se uma nova concepção de ensino.

9/15/2020

Macapá fede

         

extraído do blog de Alcinéa Cavalcante

Macapá fede, a verdade é essa, lamentavelmente. Por favor, não me entendam mal, isso não é uma declaração de ódio a minha terrinha, eu não a odeio, até gosto (do meu jeito torto), mas gosto. Fui correr hoje pela manhã, como costumeiramente faço, e a cada quarteirão que passava encontrava uma sacola de lixo estourada, ou um bueiro a céu aberto, ou merda de cachorro pelas calçadas, e agora, no inverno, também temos o odor das mangas putrefatas sob o meio fio.

As mangas e as mangueiras não têm culpa de nada, pelo contrário, elas são a graça do centro da cidade, uma das pouquíssimas coisas boas que a cidade tem. E já estão velhas, muitas delas estão prestes a cair por conta das fortes rajadas de vento. Outras já caíram. Na casa onde cresci tínhamos duas mangueiras. Uma ficava ao lado da casa e a outra nos fundos quintal. As duas davam bastante frutos durante o inverno, mas a que ficava ao lado da casa costumava arrebentar as telhas, por isso fomos obrigados a cortar os galhos que tombavam para cima do telhado.

Conheci um senhor que me falou certa vez que ele, e mais alguns outros, tinham plantado as mangueiras espalhadas ao longo do centro da cidade. Disse que era garoto, que tinha quinze anos e que era recém-chegado do interior do Pará, entrou em contato com os encarregados do então governador Janary gentil Nunes que o incumbiram de realizar esse trabalho.

Esse senhor já é falecido, tem dois anos. Não lembro o nome dele e mesmo que lembrasse não revelaria aqui, mas lembro que se tratava de um velhinho muito bem humorado que adorava contar piadas e as vezes ele era meio maluco, dirigia o carro como se fosse um adolescente embriagado, ultrapassava os sinais e as preferenciais e não estava nem aí com os outros motoristas. No geral ele era bacana, mas às vezes ele se comportava como um escroto.

Mais de uma vez eu o ouvir dizer que tinha nojo de “veados”, dizia que preferia um filho morto a um filho gay. Se estivesse vivo, provavelmente seria mais um com adesivo do Bolsonaro no carro. Trabalhávamos para o filho dele, serviço de pintura de prédios.

O filho dele era um cara bacana que por vezes se mostrava meio efeminado. Passado um tempo, quando já não trabalhava mais com ele, soube, por intermédio de um amigo da família, que o cara havia largado a esposa e assumido uma relação homoafetiva, ele era filho único. Acho que foi um golpe duro para o velho, que como já concluímos era bem homofóbico. Coisas da vida, ou melhor, peças que a vida nos prega.

Mas gostei de ter conhecido aquele velho, gosto da ideia de ter conhecido o cara que plantou as mangueiras do centro da cidade. Quando era moleque vivia pelo centro, jogando bola na Praça do Barão ou na Praça Zagury. Depois do futebol íamos apanhar manga, encher a barriga de manga, matar a fome com manga, se lambuzar de manga, entre os dentes só fio de manga, não haviam grandes preocupações, não havia boletos a pagar, não havia aluguel, não havia dissabores, havia sabor, sabor de manga, e isso nos bastava.

Não sei se saudade é um sentimento que define o que eu realmente sinto a respeito daquela época, sou inclinado a pensar que saudade tem a ver com um certo desejo de retorno, e com certeza não é isso que eu sinto. O que sinto, na verdade, é uma nostalgia, uma boa lembrança dos tempos de pivete, de quando pulava de uma embarcação a outra no cais da beira-rio, quando roubava frutas na feira ou de quando não me importava em caminhar por uma cidade mal cheirosa.


9/14/2020

Questões sobre desenvolvimento sustentável

 


1. Nas últimas décadas houve um grande avanço na gestão ambiental. Descreva alguns fatos marcantes, como por exemplo: documentos, eventos, tratados internacionais etc.

    A década de 60 do século XX é o período em que se tornam mais sentidas as preocupações com a questão ambiental, pois é nele que é publicado o livro “A primavera silenciosa”, de Raquel Carson que a partir de um minucioso estudo faz uma grave denúncia sobre como as ações do homem têm envenenado o meio ambiente. Em 1972, o assim chamado “clube de Roma” elaborou um relatório denominado “Limites ao Crescimento” no qual alerta o mundo sobre a necessidade de repensar a exploração da natureza. O documento foi importante, sobretudo porque chamou a atenção de toda a comunidade cientifica para a questão ambiental, tanto que em 1972 as informações constantes no relatório influenciaram para a realização da Conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente e desenvolvimento. 

    No ano de 1981 o congresso nacional sanciona a lei 6.938 que estabeleceu a politica nacional de meio ambiente. Em 1987 o protocolo de Montreal pôs fim ao uso de alguns produtos químicos comprovadamente nocivos à natureza. 

    Importante ainda citar o Relatório Brundtland instituído pela Assembleia geral das nações unidas e que permitiu a maior divulgação do conceito de desenvolvimento sustentável. 

    Em 1992 acontece a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, também conhecida como Eco-92 que produziu importantes documentos como “A carta da terra” e a “Agenda 21”. 

    Dez anos depois, em 2002 aconteceu na África do Sul o evento que ficou conhecido como “cúpula mundial sobre desenvolvimento sustentável” ou “Rio+10” que dentre os seus vários objetivos tinha o de verificar os resultados de compromissos selados pelas nações signatárias durante a Eco-92.

2. O artigo 225 da Constituição Brasileira, diz que...”Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado [...]”. Você acredita que este artigo da Constituição Brasileira está sendo respeitado? Justifique sua resposta exemplificando com alguns casos da sua cidade ou região.

    É possível dizer que em muitos casos o artigo 225 não têm sido devidamente respeitado e é correto afirmar que esse desrespeito advém de agentes públicos que tem dever constitucional de proteger e zelar pelo bom cumprimento deste artigo. Um caso exemplar acontece na cidade de Macapá que possui uma rede esgoto bastante reduzida se a compararmos com o tamanho da cidade, e mesmo essa reduzida rede de esgoto não sofre reparos há muito tempo. 

    Todos os dejetos expelidos escoam diretamente no rio Amazonas poluindo assim a água que mais tarde servirá para o abastecimento da cidade. As autoridades não têm dado a devida importância a este fato, não há nenhum projeto para mudar esse cenário e nenhum debate sobre essa questão. 

    Outro problema recorrente em Macapá e adjacências são as queimadas frequentes no verão. Com o fim do inverno e a chegada do verão muitos agricultores incendeiam suas roças a fim de prepará-las para o plantio, porém esse processo acarreta vários problemas, dentre os quais: a fumaça que invade os centros urbanos prejudicando a visibilidade de motoristas que circulam pela cidade, provocando e agravando a saúde de pessoas com problemas pulmonares. 

    Muitas vezes as queimadas ultrapassam os limites das roças onde foram iniciadas e ganham proporções gigantescas, invadem a floresta, matam plantas nativas e animais silvestres de todas as espécies. 

    Assim como a questão do esgoto, as queimadas também não têm recebido o devido cuidado das autoridades competentes. O trabalho de fiscalização é exíguo e não raro agentes públicos estão envoltos em casos de propina.


3- Cite três impactos ambientais que você considera mais relevantes e quais as medidas que devem ser tomadas para minimizá-los ou eliminá-los.

    O problema das queimadas na Amazônia e o seu consequente impacto ambiental deve ser considerado quando se trata de gestão ambiental no Brasil. 

    As queimadas somente são possíveis por conta da ausência de uma maior fiscalização de atividades no seio da floresta, então é possível dizer que o problema das queimadas pode ser resolvido, ou pelo menos minimizado, se houver maior investimento em fiscalização e monitoramento de atividades suspeitas dentro da floresta. 

    Ainda na Amazônia, mas não só nela, existe uma ação antrópica de catastróficas consequências para o meio ambiente, trata-se das barragens para apresamento de água e produção de energia. 

    As hidrelétricas são formas muito caras e ultrapassadas de se produzir energia e o seu processo de construção demanda enorme sacrifício da natureza, uma vez que áreas verdes são inundadas levando a destruição de espécimes da fauna e da flora. 

    Uma solução possível é o investimento nas assim chamadas “energias limpas” que são mais eficazes, não agridem o meio ambiente e podem facilmente substituir a energia hidroelétrica. 

    O Brasil tem um grande potencial para a produção de energia solar e energia eólica, estas são alternativas muito mais baratas e muito menos poluentes se as compararmos com a energia hidroelétrica. Outro problema a merecer a atenção da gestão pública é o saneamento básico. 

    O Brasil possui uma infraestrutura ínfima de tratamento de esgoto. Os rios estão cada vez mais poluídos por conta do excesso de lixo orgânico e inorgânico despejado em suas águas. 

    É preciso mais investimento em infraestrutura e um projeto abrangente de reciclagem de lixo e criação de estações de tratamentos para pôr fim à ideia de se ter o rio como fim último dos esgotos.


4- Em relação às medidas para reduzir os impactos ambientais que você citou na questão anterior, quais seriam as eventuais dificuldades para a sua implantação? Que alternativas você sugere para superar estas dificuldades?

    Sobre as medidas para reduzir os impactos ambientais resultantes da queima de florestas nativas é preciso dizer que falta empenho por parte das autoridades públicas. 

    Há pouca disposição do poder executivo em arregimentar agentes públicos que cuidem da segurança da floresta. É uma questão um tanto quanto problemática posto que envolve interesses particulares de forças econômicas poderosas, de grandes latifundiários e especuladores imobiliários, porém é preciso ter em mente que a sobrevivência da floresta é uma questão global. 

    Somente um governo realmente comprometido com a questão ambiental poderá através de ações concretas como monitoramento extensivo das florestas, aquisição de tecnologias que ajudem os agentes de fiscalização nessa monitoria e investimento maciço em tecnologia de vigilância para reduzir de maneira eficiente os focos de queimadas. 

    Sobre a produção das “energias limpas” como alternativa para a produção de energia elétrica, o maior empecilho para sua concretização mais uma vez é a falta de empenho dos poderes estabelecidos. 

    Não há nenhuma justificativa plausível que ainda possa sustentar a construção e manutenção de hidrelétricas, pois é de conhecimento público que tanto a energia solar quanto a energia eólica são muito mais baratas e infinitamente menos agressivas a natureza, mas acontece que no mais das vezes o poder econômico fala mais alto. 

    A verdade é que as campanhas eleitorais de muitos políticos são financiadas por empresários donos de construtoras, quando o candidato se elege fica em dívida com estes empresários que como recompensa ganham contratos milionários para a construção de grandes obras públicas, cujos valores não raro são superfaturados. 

    Essa é a única razão, ainda que não declarada, pela qual as hidrelétricas são construídas e mantidas em nosso país, para pagar dívidas de campanhas. É preciso romper com esse ciclo de corrupção para que se possa garantir a sobre vivencia da floresta e consequentemente a do ser humano e demais espécies. 

    Sobre o saneamento básico é preciso dizer que para se implementar de fato um projeto de revitalização e ampliação do sistema de água e esgoto se faz necessário investimentos generosos em infraestrutura, mão de obra qualificada e tecnologias de reaproveitamento e reciclagem de resíduos sólidos. 

    Uma vez mais a solução desse problema passa pela boa vontade dos governantes em fazer a coisa certa, em garantir que as verbas públicas destinadas para este fim realmente sejam aplicadas com inteligência.


5. Como você interpreta o ditado indígena: “Não herdamos a terra de nossos pais, mas a pegamos de empréstimo de nossos filhos”?. Qual a relação desta afirmação com o conceito de Desenvolvimento Sustentável?

    Quando se herda algo significa que se tem a propriedade do que foi herdado, porém quando se empresta algo significa que o objeto desse empréstimo não pertence a quem emprestou, ele é de propriedade de outrem e a quem emprestou compete somente cuidar daquilo que foi emprestado. 

    Assim deve ser a relação do homem com a terra, o homem precisa entender que a terra não é sua eterna propriedade e que ele não pode fazer dela o que bem entender, tem que compreender que quando ele se for outras gerações deverão se servir da terra para produzir seus alimentos. 

    Por isso o ser humano deve se servir da terra, porém jamais deverá explorá-la até esgotar os seus recursos.

6. Identifique uma ação ou projeto na sua cidade ou região que você considera sustentável e outra (o) que seja insustentável. Justifique suas respostas.

    Deve-se levar em consideração como uma ação sustentável a inciativa da empresa ANCEL, posto que trabalha com a prática de reflorestamento. Atuando á algum tempo no Amapá eles cultivam a planta eucalipto que mais tarde será extraída e servirá para a fabricação de papel. 

    Nesse tipo de ação não há exploração ilegal e predatória da natureza, uma vez que o produto extraído é resultado de um trabalho de reflorestamento. Uma prática que poder-se-ia considerar insustentável seria a extração de seixo do fundo do rio Araguari. 

    Trata-se uma prática criminosa, porém muito usual entre alguns empresários que clandestinamente extraem o seixo do fundo rio provocando assoreamento em suas margens e também destruindo o habitat natural de muitas espécies aquáticas.

10/14/2014

Ser de esquerda, segundo Deleuze.

Entrevistadora: O que é ser de Esquerda para você?
Deleuze: Vou lhe dizer. Acho que não existe governo de esquerda. Não se espantem com isso. O governo francês, que deveria ser de esquerda, não é um governo de esquerda. Não que não existam diferenças nos governos. o que pode existir é um governo favorável a algumas exigências da Esquerda, mas não existe governo de Esquerda, pois a Esquerda não tem nada a ver com governo. Se me pedissem para definir o que é ser de Esquerda ou definir a Esquerda, eu o faria de duas formas. Primeiro é uma questão de percepção. A questão de percepção é a seguinte: O que é não ser de Esquerda? Não ser de Esquerda é como um endereço postal, parte-se primeiro de si próprio, depois vem a rua em que se está, depois a cidade, o país, os outros países e, assim, cada vez mais longe. Começa-se por si mesmo e, na medida em que se é privilegiado, em que se vive em um país rico, costuma-se pensar em como fazer para que esta situação perdure. Sabe-se que há perigos, que isso não vai durar. o que é muita loucura, como fazer para que isso dure? As pessoas pensam:
Os chineses estão longe, mas como fazer para que a Europa dure ainda mais? E ser de Esquerda é o contrário, é perceber. Dizem que os japoneses percebem assim, não veem como nós, percebem de outra forma. Primeiro, eles percebem o contorno, começam pelo mundo, depois o continente... europeu, por exemplo, depois a França, até chegarmos a rue de Bizerte, e a mim. É um fenômeno de percepção, primeiro percebe-se o horizonte.

Entrevistadora: Mas os japoneses não são um povo de Esquerda...
Deleuze: Mas isso não importa. Estão á Esquerda, em seu endereço postal estão á Esquerda. Primeiro vê no horizonte e sabe que não pode durar, não é possível que milhares de pessoas morram de fome, isso não pode mais durar, não é possível esta injustiça absoluta, não em nome da moral, mas em nome da própria percepção. Ser de Esquerda é começar pela ponta, começar pela ponta e considerar que estes problemas devem ser resolvidos. Não é simplesmente achar que a natalidade deve ser reduzida, pois é uma maneira de preservar os privilégios europeus. Deve-se encontrar os arranjos, os agenciamentos mundiais que farão com que o terceiro mundo... Ser de Esquerda é saber que os problemas do terceiro mundo estão mais próximos de nós do que os de nosso bairro. É de fato uma questão de percepção, não tem nada a ver com a boa alma. Para mim ser de Esquerda é isso. E, segundo, ser de Esquerda é ser ou Devir minoria, não deixar o Devir minoritário. A Esquerda nunca é maioria enquanto Esquerda. Por uma razão muito simples: A maioria é algo que supõe, até quando se vota, não é só a maior quantidade que vota para tal coisa, mas a existência de um padrão. No ocidente, o padrão de qualquer maioria é: Homem, macho, cidadão. Ezra Pound e Joyce disseram coisas assim. O padrão é esse. Portanto, irá obter a maioria aquele que, em determinado momento, realizar este padrão, ou seja, a imagem sensata do homem adulto, macho, cidadão. Mas posso dizer que a maioria nunca é ninguém. É um padrão vazio. O homem macho, etc... As mulheres vão contar e intervir nessa maioria ou em minorias secundárias a partir de seu grupo relacionado a este padrão. Mas, ao lado disso, o que há? Há todos o devires que são minoria. As mulheres não adquiriram o ser mulher por natureza, elas têm um Devir Mulher, os homens também o têm. (...), as crianças também têm um Devir criança, não são crianças por natureza. Todos os Devires são minoritários. Só os homens não têm Devir homem.

Entrevistadora: Só os homens não têm Devir homem.
Deleuze: Não, pois é um padrão majoritário, é vazio. O homem macho, adulto, não tem Devir. Pode Devir mulher e vira minoria. A Esquerda é o conjunto de processos de Devir Minoritário. Eu afirmo: A maioria é ninguém e a minoria é todo mundo e que é ai que acontece o fenômeno do Devir. Por isso que todos os pensadores tiveram dúvidas em relação á democracia, dúvidas sobre o que chamamos de eleições, mas são coisas bem conhecidas.

4/15/2014

A vida como ela é...




    Quando criança, não perdia os episódios de “A Vida como ela é... Todos os domingos, no fantástico, sempre havia uma história diferente e excitante, que chamava minha atenção. Ainda hoje, eu me lembro do episódio “Noiva da morte”, com aquele final tão inusitado que, nem de longe, eu imaginaria que o Alipinho iria se enforcar, trajando o vestido de noiva que mandara fazer para a sua pretendente. O que dizer então de “A dama do lotação”? - de todos os contos este é o mais conhecido do grande público – recordo que a minha musa, Mâite Proença, protagonizou esta narrativa, ela ficou ótima no papel de ninfomaníaca que se entregava aos homens que encontrava no lotação.    Hoje, ao ler este livro, com cem crônicas, todas escolhidas pelo próprio Nelson Rodrigues, tenho a certeza de sentir as mesmas palpitações que sentia quando assistia aos episódios de “A vida como ela...”.
    Se ainda hoje, em tempos de internet, televisão e outras mídias, a escrita de Nelson Rodrigues causa tanto frenesi em quem a lê, fico imaginando então, como seria na década de 50, numa época em que não havia muitas opções de entretenimento, considerando que os únicos veículos de informação eram as rádios e os jornais. E foi nos jornais que Nelson Rodrigues se consagrou como grande contista - pois como dramaturgo ele já era celebradíssimo – e como todo grande contista ele tinha o seu público cativo, e este era formado, em sua maioria, por mulheres da classe média carioca, as mesmas mulheres sobre quem ele tanto escrevia em seus contos. Dia desses o Herbert Valente de Oliveira havia dito que ao ler as crônicas de “A vida como ela é...”, ele imaginava o próprio Nelson Rodrigues datilografando aqueles textos, eu, pelo contrário, imagino as leitoras ansiosas por receberem, a cada semana, mais um exemplar do jornal que continha os contos, talvez com o mesmo entusiasmo com que agora eu termino de ler um conto e já quero começar a leitura de outro.

 

 

8/17/2013

Shakespeare e o seu palco universal



Nunca, desde que Shakespeare nasceu, há quatrocentos anos, as suas personagens falaram a tanta gente ou adquiriram tanto significado como nos nossos dias. Ao longo das muralhas sinistras de Lourijenac, construída no século XIX, na Iugoslávia, o fantasma do pai de Hamlet incita seu filho a vingança; no coração da Rússia, em Tashkent, o ciumento Moor estrangula a inocente Desdêmona. No outro extremo do mundo, atores australianos, vestidos de tecido preto, viajam de automóvel ao longo da ilha continente, transportando uma coroa e uma ou duas espadas entre os seus pertences. Tribos da Rodésia do sul representam Macbeth, com os trajes dos guerreiros Zulus.

Nos teatros, palcos improvisados e salas de aula de todo mundo, onde quer que o sol se ponha e as cortinas se abram – em inglês puro, em boas ou más traduções -, as personagens de Shakespeare falam ao homem, do coração da humanidade. É nos três Stratfords – Inglaterra, Canadá, Estados Unidos – que as personagens parecem estar mais à vontade. Em Stratford-Upon Avon, após 84 anos de representações contínuas de Shakespeare, vendem-se cerca de 391 mil ingressos por ano. Stratford, no Canadá, inaugurada em 1953, atrai mais de milhões de espectadores, arrecadando 7 milhões de dólares. Stratford, no estado de Conncticut, vendeu mais de 258 mil ingressos, em 1964.

A julgar Por estes números, ao público do nosso tempo aplicam-se as palavras do crítico Maurice Morgan que, em 1774, escreveu sobre Shakespeare: “É mais seguro dizer que Shakespeare nos domina, do que nós o dominamos”.

Enormes lacunas no conhecimento da vida de Shakespeare encorajaram teorias tais como a que pretende provar que Shakespeare não escreveu as obras que lhe são atribuídas – mas que serviu de “capa” a sir Francis Bacon ou a Eduardo de Vere, décimo sétimo conde de Oxford, o a Christopher Marlowe, ou a sir Walter Raleigh, ou a rainha Isabel I, ou até a própria mulher do poeta, Ana Hathaway. Criptógrafos amadores julgavam ter decifrado códigos escondidos nos escritos de Shakespeare, que indicavam o verdadeiro autor. No fundo desta questão está a noção de que um homem com origem e instrução humildes não poderia ser um gênio com aquelas proporções. Estas teorias já foram rebatidas de várias formas, mas o testemunho mais evidente contra elas é constituído pelas próprias peças – o estilo é o homem -, código insofismável em que a vida e o trabalho se encontram.

Quando jovem Shakespeare teve um ambiente familiar, e talvez até escolar, bastante superior ao que os seus detratores admitem. Os Shakespeares eram lavradores do Warwickshire, mas a ambição do pai de Willian levou-o a mudar-se para Stratford, onde trabalhou como luveiro. Era, também, um dos provadores oficiais de cerveja e, quando Willian tinha quatro anos, chegou a, ser nomeado alcaide.

Provavelmente, o rapaz freqüentou a escola real de Stratford, embora contra a sua vontade, uma vez que naquele tempo o programa escolar consistia quase exclusivamente em exercícios de latim (desde as sete horas da manhã até as cinco horas da tarde e mais tempo ainda, no verão), e era exigida uma disciplina espartana.

Companhias de atores itinerantes iam representar em Stratford. Atraído por essas companhias, o jovem Willian, agora com vinte anos, partiu para Londres, onde ingressou em uma delas. Quer como ator, quer como escritor, teve um êxito rapidíssimo. Escrevia com uma velocidade espantosa – e, no entanto, os seus manuscritos raramente estavam corrigidos. Tal como Merlin, que para as suas feitiçarias utilizava qualquer porção, para Shakespeare qualquer fato servia para escrever, infundindo-lhe magia, quer fosse tirado das crônicas, de Holinsheds, quer das vidas, de Plutarco. Era o ídolo dos londrinos.

A cidade, cujo espírito Shakespeare captara, estava em plena efervescência. Após a derrota da armada invencível (1588), a Inglaterra dominava os mares e os ingleses dessa época surpreendiam-se ante o seu próprio poder: “Que obra-prima é homem! Como é nobre o seu poder de raciocínio! Como é dotado! Como é expressivo e admirável na forma e no movimento! Nas suas ações, lembra um anjo! Quão semelhante a um deus é o seu entendimento!”

     Deslumbrado pela vida, o inglês do século XVI não estava, no entanto, menos familiarizado com a morte: as pestes assolavam Londres. Todavia, uma existência cheia de perigos não impedia que os isabelinos sorrissem. Shakespeare aplicou uma lente de aumento ao espírito de sua época e, com sua musa de fogo fez resplandecer o Globe Theatre.
           
          Em todas as épocas se tem tentado verter Shakespeare em moldes contemporâneos. Uma historia das diversas formas de representar o teatro Shakespeariano, disse T. S. Eliot, é uma história da civilização ocidental. Orson Welles vestiu o César, de Shakespeare, com uniforme fascista. Moscou apresentou Hamlet como uma conspiração militar contra o rei. Em Nova Yorque, uma companhia representou um Rei Lear em que todos os papeis foram desempenhados por mulheres. Muitas destas versões são artificiosas, mas não desvirtuam, necessariamente, o espírito do autor. São possíveis porque Shakespeare é sempre atual. A sua voz chega a todo mundo: católicos, protestantes, agnósticos, aristocratas, democratas, otimistas e pessimistas.

            Que tem Shakespeare a dizer de uma época que pressente que o mundo anda desequilibrado? Não renuncia ao quadro, nem se perde em vãs lamentações. Shakespeare festeja o amor, os manjares, a bebida, a música, a amizade, a conversação e a beleza variável e constante da natureza. O homem que Shakespeare apresenta destila da sua experiência, senso comum e invulgar sabedoria.

            Todavia, o homem é, também, a “quinta-essência do pó” e os “homens tem de sofrer pacientemente tanto a sua saída do mundo, como a sua vinda para ele”. O herói da tragédia Shakespeariana é chamado a enfrentar o impossível e a morrer sem esperança de recompensa. Quando ele vai ao encontro do seu destino, o público diz, convicto: “Ali, pela graça de Deus, vai um homem melhor que eu”. O que identifica emocionalmente o público com o herói trágico é a qualidade que, essencialmente, os separa: a nobreza.

            Na pena de escritores menos dotados, essa nobreza resume-se ao esplendor da linguagem, mas versos belos apenas ficam no ouvido. Shakespeare fala à alma humana. Sabia manejar a linguagem com mestria inigualável. A forma como fala de uma coisa faz com que ela se materialize diante de nós. Condensava o universo em monossílabos: “Ser ou não ser” é a questão mais complexa e profunda que se põe ao homem, traduzidas pelas palavras mais curtas e simples.

            Shakespeare tão depressa conduz o homem aos limites da eternidade, como o remete para o comum da humanidade. Ante o cadáver de Cordélia, Rei Lear, atormentado pela dor, exclama “como é possível que um cão, um cavalo e um rato tenham vida, enquanto tu jazes inerte?” No auge do seu desespero, diz: “Não voltarás mais”. E acrescenta: “nunca mais, nunca mais, nunca mais, nunca mais, nunca mais”. Em seguida, o dique que represava a sua angústia cede com este pedido comezinho: “Por favor, desaperta-me este botão”. Só Willian Shakespeare poderia ter ousado empregar, em um mesmo momento dramático, conceitos tão díspares.

            Shakespeare sobrevive, porque a seu respeito só é possível dizer a penúltima palavra – nunca a última. As suas criações são tão opacas como as da própria vida. As suas personagens são imensamente desconcertantes. A exceção de Jesus, de Napoleão e do próprio Shakespeare, Hamlet é a personagem sobre a qual mais se tem escrito. No entanto, a única coisa que se sabe de Hamlet é que a sua tragédia é ser Hamlet – como a de todo ser humano é ser o que é. Todas as épocas e todos os homens encontram a sua imagem refletida no espelho Universal de Shakespeare. Os ecos da sua paixão e da sua poesia ressoam no nosso espírito – e assim será até os fins dos tempos.


Fonte: Grandes Vidas, Grandes Obras, seleções do Reader’s Digest, Lisboa, Portugal, 1980.

Gorki: O escritor da Revolução Proletária



Nascido em Nijni-Novgorod, hoje Gorki, a 14 de maio de 1868, Alexei Maximovich Pechtov teve intimas, profundas e compreensíveis razões para adotar o pseudônimo literário de Máximo Gorki, com qual se imortalizaria. É que “gorki” em russo significa amargo, amargoso; e amarga, como fel. Tantas vezes, foi a sua vida desde o berço miserável. E até a sua morte, em pleno fastígio da glória, a 14 de junho de 1936, não foi isenta de amargura, quando os médicos que atendiam teriam sido forçados a aplicar-lhe remédios inadequados, uma espécie de cicuta estatal. É que pelos altos poderes diretivos era olhado sob a suspeita de conspirador, quando não foi mais, durante toda a sua agita existência, que um grande e generoso inconformado que, descontente com a feição que iam tomando os negócios públicos, queria voltar para o estrangeiro, onde tanto tempo estivera, e negado lhe foi o passaporte – “e tudo isso era conhecido publicamente e discutido em murmúrios”, escreve Trotski em livro de memórias, e ainda mais: “durante a fome do primeiro e segundo planos qüinqüenais, o descontentamento e a repressão chegaram ao mais alto grau... Em tal atmosfera, Gorki constituía uma séria ameaça. Correspondia-se com escritores europeus, era visitado por estrangeiros, os danificados lhes levavam as suas queixas, ele moldava a opinião pública... prendê-lo, exilá-lo, era impossível. Estava enfermo... e a idéia de apressar a liquidação do Velho Gorki apareceu como a única maneira de solucionar o problema.”

Órfão muito cedo, desprovido de qualquer instrução, Gorki começou a trabalhar aos 9 anos, tentou varias ocupações, foi aprendiz de sapateiro, ajudante de cozinheiro nos navios do Volga, jardineiro, padeiro, vendedor de frutas, ferroviário – “as minhas universidades”, como chamou ironicamente – conheceu a miséria, passou fome e frio, por largo tempo não foi mais do que um vagabundo, percorrendo grande parte de sua querida Rússia e a substância mais rica dos seus relatos é precisamente aquela em que recorda suas andanças e sofrimentos, sua fome e desamparo, suas tentativas e contatos, aquela comovente matéria autobiográfica de Primeiro Amor e Camaradas, de Os Vagabundos e Os Degenerados, de Os Pequenos Burgueses No Bas-Fond – duas peças que dariam ao teatro russo uma nova dimensão, elevando-o sensacionalmente além de suas fronteiras – de As Minhas Universidades e o Asilo Noturno, de O Espião e Recordações de Minha Vida Literária, ele que tanto privara com Tolstoi e Tchecov, e especialmente de Minha Infância – um livro de qualidades excepcionais – ficção povoada de marginais, transviados, desempregados, aventureiros, pequenos comerciantes, mães de família e prostitutas, místicos e parasitas, operários e camponeses, soldados e marinheiros, ladrões e rufiões, bêbados e mais bêbados, páginas densamente impregnadas de um poderoso sentido social, que iriam torná-lo escritor preferido da era Soviética, escritor nitidamente proletário e político, que preparou durante anos a consciência revolucionária do povo russo, pagando por isso com numerosas prisões. Tal mensagem popular traziam as suas primeiras novelas, que eram esperadas como se fossem “importantes noticias políticas” cumprindo em relação às mais baixas camadas do povo russo a mesma conhecida missão que o sentimental humorismo de Dickens exercera para com as classes médias inglesas.

Enquanto lutava desesperadamente pela mera sobrevivência, aos azares do nomadismo, tão eslavo. Chega a Kazan, tinha 17 anos. E aí trava conhecimento com estudantes da universidade, com eles se instrui, lê com voracidade todos os livros que lhe emprestam, e decide-se pela literatura, melhor dito, por ela é arrastado e começa a escrever. Interessado pela vida política, ligou-se a um grupo populista, que abandonou aos 18 anos, tendo nessa ocasião, numa das suas raras explosões de desânimo, tentado suicidar-se com tiro de pistola que traspassou-lhe o pulmão. É preso em 1890 por convivência com elementos suspeitos e ao sair da prisão interessa-se pelo nascente movimento marista. E em 1898 publica a sua primeira série de contos, que foi rejeitada por vários editores, e que teve um sucesso sem precedentes, pois evocava o que viu e padeceu nos seus anos de vagabundagem, trazendo a novidade dos assuntos e dos ambientes e chamando para os jovens proletários a atenção do país.

Em 1901 é preso outra vez por suas ligações com o movimento revolucionário e liberto pela ação de Tolstoi, recebendo depois, por todos os lugares que ia, entusiásticas manifestações. Em 1902, já era tão famoso quanto o seu libertador, é eleito para a Academia Russa, mas não o deixaram tomar posse e anulada foi a sua eleição sob o estapafúrdio pretexto de que não tinha em ordem os seus documentos civis, irregularidade que levou Tchecov e Korolenko, diletos amigos, a se afastarem da Academia, solidários com ele. E envolve-se na fracassada revolução de 1905, com destacado papel, e acaba viajando para o exterior a fim de reunir fundos para a revolução. Em 1907 vai residir em Capri, trava amizade com Lenine, e em 1913 retorna a pátria. Durante a primeira guerra mundial assumiu atitude pacifista e até germanófila e, em 1917, apóia os bolchevistas, betendo-se pela paz em separado. Após a vitória da revolução tornou-se o porta-voz dos intelectuais perante o governo, é nomeado ministro das Belas Artes por Kerenski, mas, por certas divergências com os sovietes, sai da Rússia, em 1921, para a Alemanha e fixa-se afinal em Sorrento, tão cara a Tasso. E ao voltar a sua terra, em 1928, foi alvo de ruidosas manifestações – é um ídolo, é o pai da literatura soviética.

Se Tolstoi é a ilimitada grandeza, que alcança as alturas das epopéias e Turguenev é a elegância estilística bebida na melhor lição francesa e a literatura dos senhores rurais, “inúteis” e “supérfluos”; se Dostoievski é o mergulhador em profundidade nos tristes e ignotos corações humanos e Tchecov é graça, simplicidade quase de repórter e resignado decadentismo. Gorki é a chocante força que se revolta contra miséria e escravidão do povo russo, é a inteligência é a arte engajadas para a defesa de um ideal proletário, é o salvador da literatura russa, que, sem a sua poderosa presença, talvez não tivesse sobrevivido à tempestade da revolução de 1917, após o fracasso da revolução de 1905, quando os intelectuais, como pondo fim a quase um século de agitação profundamente nacional, realista e naturalista, refugiam-se num simbolismo enfezado e estrangeiro. É que Gorki soube resistir – prosseguiu e foi exatamente em Mãe, mais evocativo do que épico, de forma tão irregular que não seria apontado nunca como uma obra-prima literária, mas que uma das obras capitais da literatura russa, foi em Mãe que se tornou o autêntico romancista da revolução proletária e de uma nova era, lançando através de suas dolorosas páginas as ideias que pregava e que a massa entendia e esperava.

(REBELO, Marques. A Mãe. Ediouro Publicações S/A. Rio de Janeiro:  2003)