4/15/2014

A vida como ela é...




    Quando criança, não perdia os episódios de “A Vida como ela é... Todos os domingos, no fantástico, sempre havia uma história diferente e excitante, que chamava minha atenção. Ainda hoje, eu me lembro do episódio “Noiva da morte”, com aquele final tão inusitado que, nem de longe, eu imaginaria que o Alipinho iria se enforcar, trajando o vestido de noiva que mandara fazer para a sua pretendente. O que dizer então de “A dama do lotação”? - de todos os contos este é o mais conhecido do grande público – recordo que a minha musa, Mâite Proença, protagonizou esta narrativa, ela ficou ótima no papel de ninfomaníaca que se entregava aos homens que encontrava no lotação.    Hoje, ao ler este livro, com cem crônicas, todas escolhidas pelo próprio Nelson Rodrigues, tenho a certeza de sentir as mesmas palpitações que sentia quando assistia aos episódios de “A vida como ela...”.
    Se ainda hoje, em tempos de internet, televisão e outras mídias, a escrita de Nelson Rodrigues causa tanto frenesi em quem a lê, fico imaginando então, como seria na década de 50, numa época em que não havia muitas opções de entretenimento, considerando que os únicos veículos de informação eram as rádios e os jornais. E foi nos jornais que Nelson Rodrigues se consagrou como grande contista - pois como dramaturgo ele já era celebradíssimo – e como todo grande contista ele tinha o seu público cativo, e este era formado, em sua maioria, por mulheres da classe média carioca, as mesmas mulheres sobre quem ele tanto escrevia em seus contos. Dia desses o Herbert Valente de Oliveira havia dito que ao ler as crônicas de “A vida como ela é...”, ele imaginava o próprio Nelson Rodrigues datilografando aqueles textos, eu, pelo contrário, imagino as leitoras ansiosas por receberem, a cada semana, mais um exemplar do jornal que continha os contos, talvez com o mesmo entusiasmo com que agora eu termino de ler um conto e já quero começar a leitura de outro.

 

 

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