Quando criança, não perdia os episódios de
“A Vida como ela é... Todos os domingos, no fantástico, sempre havia uma
história diferente e excitante, que chamava minha atenção. Ainda hoje, eu me
lembro do episódio “Noiva da morte”, com aquele final tão inusitado que, nem de
longe, eu imaginaria que o Alipinho iria se enforcar, trajando o vestido de
noiva que mandara fazer para a sua pretendente. O que dizer então de “A dama do
lotação”? - de todos os contos este é o mais conhecido do grande público –
recordo que a minha musa, Mâite Proença, protagonizou esta narrativa, ela ficou
ótima no papel de ninfomaníaca que se entregava aos homens que encontrava no
lotação. Hoje, ao ler este livro, com cem crônicas, todas escolhidas pelo
próprio Nelson Rodrigues, tenho a certeza de sentir as mesmas palpitações que
sentia quando assistia aos episódios de “A vida como ela...”.
Se ainda hoje, em
tempos de internet, televisão e outras mídias, a escrita de Nelson Rodrigues
causa tanto frenesi em quem a lê, fico imaginando então, como seria na década
de 50, numa época em que não havia muitas opções de entretenimento,
considerando que os únicos veículos de informação eram as rádios e os jornais.
E foi nos jornais que Nelson Rodrigues se consagrou como grande contista - pois
como dramaturgo ele já era celebradíssimo – e como todo grande contista ele
tinha o seu público cativo, e este era formado, em sua maioria, por mulheres da
classe média carioca, as mesmas mulheres sobre quem ele tanto escrevia em seus
contos. Dia desses o Herbert Valente de Oliveira havia dito que ao ler as
crônicas de “A vida como ela é...”, ele imaginava o próprio Nelson Rodrigues
datilografando aqueles textos, eu, pelo contrário, imagino as leitoras ansiosas
por receberem, a cada semana, mais um exemplar do jornal que continha os
contos, talvez com o mesmo entusiasmo com que agora eu termino de ler um conto
e já quero começar a leitura de outro.
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