1/22/2012

ANÁLISE DO ROMANCE “A HORA DA ESTRELA”, DE CLARICE LISPECTOR, A PARTIR DE UMA VISÃO DA PSICOLOGIA


I- INTRODUÇÃO

O romance “A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector é a obra que será analisada a seguir. A análise está dividida em duas partes: a primeira abrange os elementos que compõem a narrativa, subdividindo-se em: enredo, narrador, personagens, espaço, ambiente, tema, assunto e mensagem. A segunda parte traça um paralelo entre o texto de René Wellek “A Literatura e a psicologia” com o romance em questão, que começa quando o narrador chamado Rodrigo S. M., andando pela rua consegue captar o olhar de desespero de uma jovem nordestina no meio da multidão. A partir daí, nasce Macabéa, que é na verdade a representação de toda a miséria e alienação inerente ao narrador e a todas as pessoas. 

    Em uma relação de amor e ódio, Rodrigo S. M. narra a vida dessa moça como tentativa de se livrar da sensação de mal-estar que ela representa e que o contagiava, ao mesmo tempo em que tem piedade e se revolta, inclusive se sentindo culpado por viver num padrão de vida mais elevado que a maioria da população marginalizada. Dessa forma íntima, o leitor também se coloca no lugar do outro para experimentar essa miséria e percebe que no fundo, todos nós temos alguma coisa de Macabéa.

II- ANÁLISE DOS ELEMENTOS QUE COMPÕEM A NARRATIVA DO ROMANCE “A HORA DA ESTRELA”, DE CLARICE LISPECTOR

2.1- ENREDO

    De acordo com Heraldo Chacon, “A Hora da Estrela” apresenta dois relatos. Nota-se que eles se interligam, não sendo possível separá-los, pois o livro nem mesmo tem divisão por capítulos. O primeiro deles é o da nordestina Macabéa, moça magrela e pobre de tudo, pois, além de dinheiro, lhe faltava inteligência, esperteza e auto-estima. Perde os pais muito cedo e logo passa a ser criada por uma tia que lhe trata mal. Quando a tia morre, ela passa a morar com quatro moças que dividem um quarto. 

    Um dia, Macabéa conhece Olímpico, também nordestino, e começam a namorar. Ele, ao contrário de Macabéa fala bem, é metido, convencido e pensa no seu futuro, sonhando se tornar deputado. Mas Olímpico rompe o namoro com a nordestina para ficar com Glória, colega de trabalho da mesma. Glória, talvez por remorso de ter roubado o namorado de Macabéa, aconselha-a procurar uma cartomante, madama Carlota, que prevê um futuro grandioso e feliz para a pobre nordestina, que, ao contrário, é atropelada por um Mercedes, morrendo logo em seguida no local.

    O segundo relato faz o leitor acompanhar o processo da escrita do romance, pois o narrador-personagem evidencia seus sentimentos ao narrar a vida de Macabéa como tentativa de se livrar da sensação de mal-estar que ela representa e que o contagia. Pela forma de narração que há na obra, dá a aparência de não ser o tipo de escritor que trabalha de forma preestabelecida, mas que vai deixando as personagens brotarem e crescerem como se parte disso fosse ação delas próprias, chegando ao ponto de influenciar o pseudo-autor, mexendo com suas emoções, com seus sentimentos.

2.2- PERSONAGENS

2.2.1 – RODRIGO S.M.

    É o pseudo-autor e narrador do relato. Apresenta-se como profissional escritor. É um narrador intruso, por isso (e também por revelar seus sentimentos) torna-se uma das personagens. É o primeiro narrador masculino na obra de Clarice. Ele questiona o tempo inteiro o seu modo de narrar, o seu estilo, a sua capacidade de compreender Macabéa. Em última instância, o que ele procura é desvendar o significado da literatura e da existência.

“E ouço passos cadenciados na rua. Tenho um arrepio de medo. Ainda bem que o que vou escrever já deve estar na certa de algum modo escrito em mim” (pg. 20).

2.2.2 – MACABÉA

    É a protagonista da história. É pobre, magra, alagoana, mas que passa a morar no Rio de Janeiro com a tia, que morre em seguida. Trabalha como datilógrafa. Gosta de coca-cola, fã de Marilyn Monroe, sonha em ser estrela de cinema e escuta a Rádio-Relógio. É feia, cheira mal por não gostar de tomar banho e é (e morre) virgem. Não tem auto-estima, inteligência e esperteza. É uma jovem sem qualquer tipo de vida interior, sem futuro e com um passado inexpressivo, quase cretina.

“A datilógrafa vivia numa espécie de atordoado nimbo, entre o céu e inferno. Nunca pensara em “eu sou eu”” (pg. 36).

2.2.3 – OLÍMPICO

    Nordestino que veio do sertão da Paraíba por ter matado um homem. É bem falante, metido, convencido, vaidoso, usa dente de ouro e trabalha numa metalúrgica. Trata sempre mal sua namorada, que, por medo de perdê-lo sempre se desculpa quando deveria ser o contrário.

   “E não é que ele dava para fazer discurso? Tinha o tom cantado e o palavreado seboso, próprio para que abre a boca e fala pedindo e ordenando os direitos do homem” (pg. 46).

2.2.4 – GLÓRIA

Colega de trabalho de Macabéa. É carioca, filha de um açougueiro, gorda, branca e cabelos crespos e pretos que ela oxigenava sempre. Um adágio popular que caracterizaria bem sua relação com Macabéa é: “quem tem uma amiga dessas não precisa de uma inimiga”, pois ela acaba ficando com o namorado de Macabéa e a recomenda ir a uma cartomante, e a nordestina, ao sair da casa da adivinha, acaba morrendo.

“O fato de ser carioca tornava-a pertencente ao ambicioso clã do sul do país. Vendo-a, ele logo adivinhou que, apesar de feia, Glória era bem alimentada.” (pg. 59).

2.2.5 – CARLOTA

Vidente, cartomante, ex-prostituta, ex-cafetina e gorda. Quando Macabéa foi visitá-la, tratou-a com um carinho excessivo, que não era comum à nordestina.

“... então caí na vida. E gostei porque sou uma pessoa muito carinhosa, tinha carinho por todos os homens” (pg. 74).

2.2.6 – RAIMUNDO SILVEIRA

Chefe do escritório em que Macabéa trabalha. Tenta demitir Macabéa por ter muitos erros de ortografia e sujar os papéis nos quais datilografava, mas acaba admitindo-a de volta (pg. 25).

2.3 – NARRADOR

Em relação à história da vida de Macabéa, ele está em terceira pessoa. É um narrador de onisciência relativa, que, hora sabe o que se passa pela cabeça da nordestina, hora apresenta insegurança no que diz. Mas há uma narrativa à parte, feita em primeira pessoa por Rodrigo S. M., que se mostra tanto como pessoa quanto como profissional. Assim, o narrador se manifesta, no decorrer da história, de três formas: através de um monólogo e reflexão, conta e descreve de forma simples o que acontece e valoriza o discurso direto.

2.4 – TEMPO

É psicológico, pois há uma análise psicológica mais aprofundada dos personagens, que revela, por meio da narrativa interior, o fluxo da consciência e o intimismo.

2.5 – ESPAÇO

A história acontece no Rio de Janeiro, destacando-se os seguintes espaços: quarto em que Macabéa mora com as Marias, escritório em que trabalha, apartamento da cartomante, rua do Acre, cais do Porto, zoológico. Há também referências a Maceió e Recife, onde respectivamente passaram a infância Macabéa e Rodrigo, o narrador.

2.6 – AMBIENTE

Pobre, seco, ininteligível, frio – no sentido de isenção de paixão, insensível, indiferente – desinteressante, morto. O ambiente é, na verdade, uma descrição de Macabéa. Parece que em todo o espaço que a nordestina visita há penetração de suas características, além das angústias da vida da protagonista que atingem o pseudo-autor.

2.7 – TEMA

    A alienação

2.8 – ASSUNTO

    A vida sem questionamentos

2.9 – MENSAGEM

    Há pessoas que são infelizes por não saberem o verdadeiro sentido da felicidade.

III – ANÁLISE FEITA ATRAVÉS DE UM PARALELO TRAÇADO ENTRE O TEXTO DE RENÉ WELLEK “LITERATURA E PSICOLOGIA”, E “A HORA DA ESTRELA”, OBRA DE CLARICE LISPECTOR.

    O texto de René Wellek enfatiza as várias teorias que pertencem efetivamente à psicologia do escritor, ao seu processo criativo e aos estudos dos tipos de leis psicológicas presentes em obras literárias. Assim, pode-se traçar uma relação entre o texto “A Literatura e a Psicologia” e o romance “A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector.

    Se Clarice Lispector fosse vista de acordo com a concepção antiga, o “dom” de escrever seria dado a ela como uma compensação de um problema físico que possuía (que era a língua “presa”).

    Na visão de Freud, o escritor não é inteiramente estável, o que é evidenciado no romance, pois, quanto ao estilo, que se tornou contrário da maior parte das suas obras anteriores, é marcado por uma preocupação narrativa de caráter mais objetivo, situando a personagem em seus hábitos, seu espaço social, seu ideário romântico.

    Ainda Freud dizia que o artista molda as suas fantasias em um novo tipo de realidade; o artista tem medo de alterar o mundo exterior, daí ele passa para a arte tudo aquilo que sente, como por exemplo, a protagonista do romance, Macabéa, que possui, de acordo com Clarice, uma certa imunidade às malícias da vida, sendo que todos deveriam ter um pouco desta inocência cultivada.

    Para Erich Jaensch, o artista sente e até vê seus pensamentos. Rodrigo S. M., pseudo-autor e narrador do relato tem uma estrita vinculação com Clarice. Ambos se confundem. São um só e, ao mesmo tempo, são diferentes. Rodrigo S. M. representa uma outra forma de ser e de escrever de Clarice, um desdobramento do próprio eu da escritora, uma espécie de heterônimo. Assim, o pensamento da autora se projeta no pensamento de Rodrigo S. M., como se nota no seguinte recorte: “se sei quase tudo de Macabéa é que já peguei de relance o olhar de uma nordestina amarelada. Esse relance me deu ela de corpo inteiro” (pg. 57).

    Na obra, o narrador-personagem tem o intuito de narrar a história sem sentimentalismo, pois o fato da autora ter criado um narrador masculino, é para que ele não relate com comoção Macabéa, e dê a ela um final feliz: “também eu não faço a menor falta, e até o que escrevo, um outro escreveria. Um outro escritor sim, mas teria que ser homem porque escritora mulher pode lacrimejar piegas” (pg. 14).

    Há também o uso contínuo de sinestesia (mistura de sensações) para expressar suas impressões: “sim, talvez alcance a flauta doce em que eu me enovelarei em macio cipó” (pg. 20).

    O psicanalista Carl Jung faz uma reformulação da tese junguiana de que, por baixo do “inconsciente” individual, encontra-se o “inconsciente coletivo”. Este “inconsciente coletivo” é posto em prática quando se é contada a história de Macabéa, por isso, Eduardo Portela ao prefaciar o livro, nota muito bem que a protagonista representa bem mais, ela é todo um grupo social: “a moça alagoana é um substantivo coletivo”. Pensa-se que a história realmente aconteceu, pois é isso que Rodrigo S. M. diz no seu relato: “... é claro que a história é verdadeira embora inventada” (pg. 12). A idéia de que este fato é verdadeiro está atrelado ao fato de que existem pessoas com dificuldades de encontrar um lugar na sociedade, além da denúncia de exploração e desumanidade do mundo urbano contra o imigrante nordestino. Tudo isso é narrado pela autora para que muitos se identifiquem com Macabéa e acreditem que ela realmente existiu.

    Sem dúvida a escritora Clarice Lispector se encaixa na visão de Kretschmer, como o “possuído”, isto é, o poeta automático, obsessivo ou profético. É marcante nos textos de Clarice a postura e a linguagem poética. A poesia vem da relação afetiva que se estabelece entre o triângulo leitor/narrador/protagonista e no caráter sugestivo da linguagem que evita a objetividade referencial, optando pela tentativa de captação da magia da vida pelas palavras e expressões que apenas tangenciam o concreto para atingir o essencial que é intangível à palma da mão, como diz Drummond. Exemplos disso: “sim, talvez alcance a flauta doce em que eu me enovelarei em macio cipó” (pg. 20). “Pois, na hora da morte a pessoa se torna brilhante estrela de cinema, é o instante de glória de cada um e é quando como no canto coral se ouvem agudos sibilantes” (pg. 29). “E então – então o súbito grito estertorado de uma gaivota, de repente a águia voraz erguendo para os altos ares a ovelha tenra, o macio gato estraçalhando um rato sujo e qualquer, a vida come a vida” (pg. 89).

    Para o psicólogo francês Ribot, o “difluente” (possuído) é o poeta que parte das suas próprias emoções e sentimentos, e, de acordo com Geraldo Chacon, Clarice deixava correr seu pensamento, seus sentimentos, suas reflexões, suas sensações, numa magia que parte do banal cotidiano, mas dele escapa, atingindo uma rara epifania*.

    Em relação ao processo criativo, à maneira de Dilthey, embora insatisfatória, revela-se algo sobre a autora. Para ele, “o autor é um “artífice” de poemas, mas as matérias dos seus poemas é toda a sua vida percipiente; ele não acumula nenhuma experiência insipiente”. Isso se remete aos acervos de Clarice, o qual revela a autobiografia da escritora como fator marcante de suas personagens, que se evidencia na tentativa da autora de fugir da sufocante introspecção das obras anteriores, como ela mesma revela: “não agüento ser apenas mim, preciso dos outros para me manter em pé...” criando um romance que tem alguma abertura para o mundo exterior. As circunstâncias históricas também podem a ter levado a produzir algo mais social, embora não seja a dimensão mais valiosa do texto.

    Outra afirmação contida no texto “A Literatura e a Psicologia” é que “nos tempos modernos, sentimos a inspiração como algo que possui as marcas essenciais do repentino (como a conversão) e do impessoal: a obra parece escrita através de nós”. De acordo com Olga Borelli, melhor amiga de Clarice, em qualquer lugar que a escritora estivesse e lhe viesse um pensamento, anotava para não esquecê-lo e acabava por utilizá-los em suas obras.

    Quanto aos rituais praticados por escritores para induzir o estado criativo, assim como a tradição romântica wordsworthiana, que exalta a manhã, nossa autora preferia escrever bem cedo, como revelou em sua última entrevista dada à TV Cultura. Porém, acrescentou que em qualquer horário poderia escrever. Rodrigo S. M. também teve um ritual para poder escrever sobre Macabéa: “para falar da moça tenho que não fazer a barba durante dias para adquirir olheiras escuras por dormir um pouco, só cochilar de pura exaustão, sou um trabalhador manual. Além de vestir-me com roupa velha rasgada. Tudo isso para me pôr no nível da nordestina” (pg. 19).

    É marcante nos textos de Clarice a postura e a linguagem poética. Parece uma brincadeira entre palavras, que, de acordo com René Wellek “o homem literário usa a palavra como seu veículo. Como criança, pode colecionar palavras como outras crianças colecionam bonecas, selos ou animais de estimação”. É bom ressaltar que para o poeta, como acrescenta René, “a palavra não é um signo, mas um símbolo”. Mas, ao contrário do que os pós-modernistas pensavam (palavra como símbolo), autores modernistas, como Graciliano Ramos, a viam como um signo.

    Nossa autora apresenta uma associação entre os dois relatos de Rodrigo S. M.: sobre a vida de Macabéa e o seu processo de escrita, pois, de acordo com Geraldo Chacon: “funciona como fios de tapete que compõem dois desenhos que se inter-relacionam”. Na criação da personagem Macabéa, a escritora faz uso de características já existentes em outras personagens, como Fabiano, protagonista de Vidas Secas, do próprio Graciliano Ramos: ambos são personagens que não sabem gritar. Sua condição física, moral e social não lhes permitem.

    A maneira de outros romancistas que se equipararam a seus próprios personagens, como é o caso de Flaubert que disse: “madame Bovary c’est moi”. Pode ser também que Clarice em seu romance tenha revelado uma das facetas de sua personalidade por meio da personagem Macabéa, “a antieroína tosca e ingênua” criada por esta autora. Segundo Sérgio Vale “Macabéa é o desejo de Clarice de não ter que conviver com a barbárie da realidade, e o desejo de Clarice é que todos tenham um pouco dessa inocência cultivada”.

    Para a autora as personagens são mostradas de maneira incompleta e unidimensional, ou seja, a escassez de informações, usando apenas o essencial para poder dar compreensão vaga da personalidade de suas criações. As lacunas são recursos usados para se colocar diante das suas personagens. “A Hora da Estrela” é a única obra de Clarice com a intenção social explícita.

    Portanto, há muitas linhas que entrelaçam o texto de René com a obra e a vida de Clarice Lispector. Mas, longe de conhecer por inteiro a escritora, tentou-se relacionar o básico para entendê-la e olhar por novos horizontes a escrita “possuída” da autora. *é um instante abruto de revelação intensa, de uma tomada de consciência.


IV – REFERÊNCIAS

CHACON, Eduardo. PUC, literatura para vestibular: análise e resumo de obras. Editora Flâmula. São Paulo, 2001.
LISPECTOR, Clarice. A Hora da Estrela. Editora Rocco. Rio de Janeiro, 1998.
OLIVEIRA, Clenir Bellezi de. Discutindo Literatura: a flor do mandacaru. Editora Escala Educacional. 18ª edição. São Paulo, 2008.
WELEK, René. Teoria da Literatura e Metodologia dos Estudos Literários. Editora Martins Fontes. São Paulo, 2003.
Google.pesquisa de literatura.
Disponível em: Acesso em: 9 out 2008, às 19:07h.
Disponível em: www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/a/a_hora_da_strela> Acesso em: 9 out 2008, às 20:03h.
Disponível em: Acesso em: 9 out 2008 20:19h.

ANÁLISE DO ROMANCE “VIDAS SECAS”, DE GRACILIANO RAMOS A PARTIR DE UMA VISÃO DA SOCIOLOGIA


I- INTRODUÇÃO

Falar de Vidas Secas representa enfrentar uma complexidade que não se pode encontrar em qualquer obra. Trata-se na verdade de um romance onde não somente a terra é considerada seca, mas também os sentimentos, os sonhos, as pessoas, as relações entre as pessoas, as vidas, enfim, tudo o quanto vem a existir neste “universo paralelo” criado por Graciliano Ramos tornar-se árido e infrutífero. É como se o eu - poético tivesse o poder de tornar em pedras de sal tudo quanto toca. Este romance é recheado de figuras de linguagem, e não é difícil identificá-las ao longo de sua leitura. Apresentaremos a seguir uma análise dos elementos que compõem a narrativa do romance e das figuras de linguagem encontradas no mesmo, ressaltando a importância do uso destas, que são tão utilizadas em nosso dia-a-dia e que tanto contribuem para o melhoramento de nossas produções textuais. Portanto, o que não tem sido devidamente esclarecido ao grande público de leitores, agora terá uma atenção especial neste trabalho elaborado para este fim.

II- ANÁLISE DOS ELEMENTOS QUE COMPÕEM A NARRATIVA DO ROMANCE “VIDAS SECAS”, DE GRACILIANO RAMOS

2.1- ENREDO

    Uma família de retirantes nordestinos inicia um périplo ao fugir das secas. Depois de vários dias de viagem, encontram uma fazenda abandonada e nela se alojam. Quando o dono retorna, Fabiano – chefe da família de retirantes e protagonista – trabalha para aquele (Seu Tomás da Bolandeira), durante um período de bonança. Sobrevinda nova seca, anunciada pela vinda dos urubus, a família retoma a sua jornada, mas com esperança de tudo mudar, embora a obra seja um eterno ciclo.

2.2- PERSONAGENS

2.2.1 – FABIANO

    É o personagem principal da estória. Um pai duro, que não demonstra sentimentos, tem apenas o objetivo de sobreviver na vida, assim como toda a família. Sua profissão é ser vaqueiro, e isso veio de gerações, nunca mudando seu status social. Possui uma linguagem pobre, escassa, assim como a seca que há no sertão. Às vezes, quando tenta “falar difícil”, como seu Tomás da Bolandeira, seu patrão e “ídolo”, acaba se atrapalhando, pois a linguagem falada é pouco utilizada pela família.

“Isto é. Vamos e não vamos. Quer dizer. Enfim, contanto, etc. É conforme.”
(Capítulo “CADEIA” – pg. 28)

2.2.2 – SINHÁ VITÓRIA

    É a mulher de Fabiano. Seu nome é incoerente à sua vida. Cuida da casa enquanto Fabiano trabalha; faz contas certas para mostrar ao marido os freqüentes roubos de seu patrão. Sinhá vitória sonha com uma cama de lastro e couro igual à de seu Tomás da Bolandeira, sendo esta o símbolo de uma ascensão social.

“Sinhá Vitória desejava uma cama real, de couro e sucupira, igual a de seu Tomás da Bolandeira. ” (Capítulo “SINHÁ VITÓRIA” – pg. 46)

2.2.3 – MENINO MAIS NOVO

    Tem como “ídolo” seu pai. O menino sonha em poder fazer tudo o que o pai faz, até porque esta é a única profissão que tem como referência, já que outras estão longe de sua visão. Não conhece a escola e não tem nome, assim como o menino mais velho.

    “Naquele momento Fabiano lhe causava grande admiração. Metido nos couros, de perneiras, gibão e guarda-peito, era a criatura mais importante do mundo.” (capítulo “O MENINO MAIS NOVO” – pg. 47)

2.2.4 – MENINO MAIS VELHO

    É um menino curioso. Tenta conhecer o significado da palavra “inferno” (que é comum ao falante da língua portuguesa), perguntando à sua mãe o seu significado, mas infelizmente não obtém resposta, apenas um cocorote. No decorrer da estória se nota que por não fazer uso da linguagem falada com freqüência, procura preencher-se de vocabulários esquisitos, como os sons emitidos pela natureza ou mantendo conversas com a cachorra Baleia.

“Como não sabia falar direito, o menino balbuciava expressões complicadas, repetia as sílabas, imitava os berros dos animais, o barulho do vento, o som dos galhos eu rangiam na catinga, roçando-se.”
(capítulo “O MENINO MAIS VELHO” – pg. 59)

2.2.5 – BALEIA

    É considerado um membro da família. Nota-se que o narrador lhe pôs sentimentos e consciência, como se fosse humana. Quando consegue comida não pensa apenas em si, mas na família inteira, tendo a responsabilidade de ajudar os outros. Ela é mais presente no dia-a-dia dos meninos que os próprios pais.

“Uma angústia apertou-lhe o pequeno coração. Precisava vigiar as cabras: àquela hora cheiros de suçuarana deviam andar pelas ribanceiras, rondar as moitas afastadas. Felizmente os meninos dormiam na esteira, por baixo do caritó onde sinhá Vitória guardava o cachimbo.”
(capítulo “BALEIA” – pg. 90)

2.2.6 – SOLDADO AMARELO

    É o símbolo do poder do governo. Por mais que fosse amarelo e magro, era respeitado por ser um soldado. Isto se torna evidente quando Fabiano o encontra perdido no sertão; podendo matá-lo por este o ter prendido e maltratado um certo dia na cidade, Fabiano resolve deixá-lo seguir, pois tem medo de ser novamente encarcerado.
“Afastou-se, inquieto. Vendo-o acanalhado e ordeiro, o soldado ganhou coragem, avançou, pisou firme, perguntou o caminho. E Fabiano tirou o chapéu de couro. _ “Governo é governo”.”
(capítulo “O SOLDADO AMARELO” – pg. 107)

OBSERVAÇÃO: seu Tomás da Bolandeira, apesar de ser muito citado, é mais uma referência de inteligência e vida farta do que um personagem propriamente dito. Além dele são citados sinhá Terta, costureira e benzedeira, e seu Inácio, dono de uma venda na cidade.

2.3 – NARRADOR

    O narrador está em primeira pessoa, ou seja, é um narrador onisciente que não abusa do poder de tudo saber, controlando-se com freqüência no emprego do discurso indireto livre; temos como exemplo o recorte abaixo:

“Ele, Fabiano, um bruto, não contava nada. Só queria voltar para junto de sinhá Vitória, deitar-se na cama de varas. Por que vinham bulir com um homem que só queria descansar? Devia bulir com os outros.” (capitulo “CADEIA” – pg. 33). A voz parece ser simultaneamente do personagem e do narrador.

    A obra é um romance “desmontável”, conforme a observação do cronista Rubem Braga, pois não se tem no romance um pseudo-autor presente a escrever o que lhe aconteceu; é substituído por um narrador, encadeando proto-estórias numa narrativa mais ampla, independentes da maioria, mantendo sua unidade e sentido completo.

2.4 – TEMPO

    Não há objetivos que permitam precisar o tempo cronológico em que decorre a narrativa, a não ser que os acontecimentos vividos pela família que se desenrolam entre duas secas. Existe também na obra o tempo psicológico, pois enfatiza mais as dimensões mental/emocional das personagens.
"Por pouco que o selvagem pense - e os meus personagens são quase selvagens – o que ele pensa merece anotação."
Graciliano Ramos

2.5 – ESPAÇO

    Vidas Secas é um romance que se desenvolve no sertão nordestino; a família vive agregada numa fazenda cujo proprietário é patrão de Fabiano.

2.6 – AMBIENTE

    Observa-se que o romance apresenta um ambiente sem sentimentalismo, pois, por viverem em um espaço onde não lhes é oferecida boas condições de vida, tornam-se pessoas rudes, que não conseguem deixar transparecer seus sentimentos.

    O ambiente é escasso de linguagem verbal, pois os personagens quase nunca dialogam. Está presente também a injustiça social e a pobreza, fazendo com que as personagens fiquem desanimadas em relação à vida. Enfim, o ambiente em que eles vivem é “seco” em todos os sentidos.

2.7 – TEMA

Injustiça social

2.8 – ASSUNTO

Denúncia social

2.9 – MENSAGEM

A seca não está apenas no sertão, mas na alma de muitos e na falta de ações de outros.

III – ANÁLISE DAS FIGURAS E VÍCIOS DE LINGUAGEM EM VIDAS SECAS, OBRA DE GRACILIANO RAMOS

    O romance “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos é carregado de figuras de linguagem desde as mais conhecidas, como a Metáfora, às menos populares (Analepse, por exemplo). A obra é tão bem trabalhada que as figuras começam pelo título da mesma: “VIDAS SECAS”. O primeiro vocábulo dá sentido de abundância enquanto o segundo dá idéia de vazio, ou seja, há um Paradoxo (oposição de idéias resultando em uma construção de sentido ilógico).

    Existe uma fácil percepção das figuras Prosopopéia e Zoomorfismo. Nota-se a primeira na humanização dos animais e da paisagem: “Os mandacarus e os alastrados vestiam a campina.” (capítulo “FUGA” – pg. 120). A segunda figura consiste em aproximar e descrever o comportamento humano como de um animal, ou tratá-lo como tal. Isto ocorre quando Fabiano vai sendo descrito pelo narrador, no capítulo de mesmo nome: “O corpo do vaqueiro derreava-se, as pernas faziam dois arcos, os braços moviam-se desengonçados. Parecia um macaco.” (capítulo “FABIANO” – pg. 19).

    Por ser uma família banida de linguagem, o uso de Onomatopéias (palavra cuja pronúncia imita o som natural da coisa significada) está presente na maioria das falas ou expressões: “... mas agora rangia os dentes, soprava. Merecia castigo? _ An!” (capítulo “CADEIA” – pg. 33). Além disso, a Tautologia (vício de linguagem que consiste em dizer a mesma coisa, por formas diferentes, repetidas vezes) é usada para explicar o significado pelo próprio nome, como por exemplo, “_ Festa é festa.” (capítulo “FESTA” – pg. 77). Fabiano não sabe o que é festa, mas tenta fazer uso do nome para dar conceito à própria palavra. Não só neste recorte encontramos a falta de vocabulário, como na passagem que Fabiano tenta falar como seu Tomás da Bolandeira, no capítulo Cadeia. Ao tentar se expressar, acaba se contradizendo, ocorrendo a Antítese (palavras ou expressões de sentidos opostos): “isto é. Vamos e não vamos. Quer dizer. Enfim, contanto, etc. É conforme.” (capítulo “CADEIA” – pg. 28).

    O narrador também faz uso de Gradação (seqüência de idéias em sentido crescente ou decrescente) e de Assíndeto (ausência de conectivos). Tem-se como exemplo esta passagem: “Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se...” (capítulo “MUDANÇA” – pg. 9) *.

    O emprego de Metáforas está em todo o romance, assim como a Comparação. A Metáfora (comparação subentendida, como será visto a seguir) funde o ser humano e o animal, como se vê neste fragmento: “¬_ Você é um bicho, Fabiano.” (capítulo “FABIANO” – pg. 19). A Comparação (não subentendida, geralmente vinda com o conectivo “como”) também se torna populosa na obra: “... aparecera como um bicho, mas criara raízes, estava plantado.” (capítulo “FABIANO” – pg. 19).

    Para dar ênfase às frases, o narrador opta por figuras que eram muito usadas no simbolismo (davam efeito de musicalidade), como o uso de Aliterações-assonância, que ocorre com a repetição de uma vogal para dar rima “Veja que mole e quente é pé de gente.” (capítulo “FABIANO” – pg. 31). Também há presença da Aliteração-consonância, que consiste na repetição de consoantes para dar musicalidade: “... e aí fervilhava uma população de pedras vivas e plantas que procediam como gente.” (capítulo “O MENINO MAIS VELHO” – pg. 58).

    A Elipse, omissão de palavras sem que se comprometa a frase, é aplicada com louvor por Graciliano (também conhecido por assim fazer em suas obras): “... o rio subia a ladeira, estava perto dos juazeiros. Não havia notícia de que (o rio) os houvesse atingido.” (capítulo “INVERNO” – pg. 67). É clara a utilização da Zeugma (um tipo de Elipse) quando o narrador omite a palavra “rio”, já dita na oração anterior e sem necessidade de ser retomada.

    No recorte seguinte, ver-se-á um exemplo de Apóstrofe: “_ Anda, excomungado.” (capítulo “MUDANÇA” – pg. 10). A palavra “Anda” dá idéia de chamamento, que é o conceito da figura apontada acima. Quanto à repetição de uma palavra para dar ênfase à idéia (Anáfora), temos três orações consecutivas que apresentam o mesmo verbo: “Mas havia a mulher, havia os meninos, havia a cachorra.” (capítulo “CADEIA” – pg. 37).

    Há duas figuras que tem conceitos opostos de se expressar ou dar uma notícia: o Eufemismo e o Disfemismo. O Eufemismo suaviza e o Disfemismo deprecia. Para melhor compreensão veja os trechos a seguir: “Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás.” (capítulo “BALEIA” – pg. 91); “... e Fabiano, com os miolos ardendo, deixara indignado o escritório do branco, certo de que fora enganado.” (capítulo “FESTA” – pg. 76). O primeiro chega a abrandar a notícia que “Baleia está morrendo”. O segundo, ao invés de pôr “Fabiano, com muita raiva”, escolhe “Fabiano, com os miolos ardendo”, desdenhando assim a expressão.

    A Ironia é uma figura muito usada no cotidiano e em programas humorísticos, e se faz presente até no nome das personagens, como Sinhá Vitória e Baleia. Quando o narrador revela o nome da cachorra, Baleia, a princípio, nos leva a imaginar uma cadela gorda, mas, pelo contrário, como é perceptível quando o narrador a descreve nota-se que ela é totalmente o oposto de seu nome: “... a cachorra Baleia tomou a frente do grupo. Arqueada, as costelas a mostra, corria ofegante, a língua fora da boca...” (capítulo “MUDANÇA” – pg. 11).

    A repetição de palavras no fim de duas orações consecutivas (Epístrofe), no começo e no fim de uma frase (Epizeuxe), no fim e no começo da mesma oração (Anadiplose) ou da mesma palavra que se repete havendo apenas uma de permeio (Diácope), não são encontradas com a mesma freqüência que as metáforas, mas que podem ser notadas a partir dos recortes expostos a seguir: “Fora roubado, com certeza fora roubado” (capítulo “FESTA” – pg. 77); “_Bem, Bem. Não há nada não.” (capítulo “CADEIA” – pg. 33); “Baleia encostava a cabecinha fatigada na pedra, a pedra estava fria.” (capítulo “BALEIA” – pg. 91); “Se pudesse... Ah! se pudesse, atacaria os soldados amarelos que espancam as criaturas inofensivas.” (capítulo “CADEIA” – pg. 36).

    Às vezes o narrador volta ao passado interrompendo a seqüência cronológica da narrativa, como se fosse um flashback. Isto se chama Analepse, mais utilizada quando Sinhá Vitória se lembra do papagaio que fora comido ou quando Fabiano pensa em Baleia, depois de ela ter sido morta: “Ainda na véspera eram seis viventes, contando com o papagaio. Coitado, morrera na areia do rio, onde haviam descansado, à beira de uma poça...” (capítulo “MUDANÇA” – pg. 11). Assim como há a Analepse também existe a Prolepse, que é um recurso narrativo através do qual se pode descrever o futuro. Quando Fabiano antecipa o destino dos filhos, pensando num futuro que se parece com o presente vivido pela família, esta figura aparece: “Quando crescessem, guardariam as reses de um patrão invisível, seriam pisados, maltratados, machucados, por um soldado amarelo.” (capítulo “FUGA” – pg. 37).

    Enfim, não se pode esquecer a Hipérbole, figura usada para intensificar uma idéia: “Baleia voou de novo entre as macambiras inutilmente.” (capítulo “FABIANO” – pg. 21).

OBSERVAÇÃO:

“O sol chupava os poços, e aquelas excomungadas levavam o resto da água, queriam matar o gado.” (capítulo “O MUNDO COBERTO DE PENAS” – pg. 109).

    Na sentença acima, o termo grifado pode representar três diferentes figuras de linguagem: Hipérbole, Metáfora e Prosopopéia. A primeira está contida porque intensifica o modo como a água ia desaparecendo do poço; a segunda é empregada porque a palavra em negrito está fora do seu sentido próprio; a terceira se dá pela idéia na oração, já que o sol é um ser inanimado e na oração ele é humanizado.


*Sabe-se que Graciliano Ramos por várias e várias vezes leu o livro para tirar tudo que não tivesse necessidade de ser posto. Logo, a linguagem enxuta do autor o fez usar mais vírgulas do que conectivos.

IV – REFERÊNCIAS

Google.pesquisa de literatura.
Disponível em: Acesso em: 15 set 2008, às 20:23h.
Disponível em: Acesso em: 18 set 2008, às 15:16h.
Disponível em: Acesso em: 5 Nov 2007 9:36h.
BUENO, Antônio Sérgio. OLIVEIRA, Silvana Maria Pessôa de. SCARPELLI, Marli Fantini. Puc, livros do vestibular: análise, comentários e testes. Editora Speed. Belo Horizonte, 1999.
Ramos, Graciliano. Vidas Secas. Editora Record. 106ª edição. Rio de Janeiro/São Paulo, 2008. 
SACCONI, Luiz Antonio. Nossa Gramática – teoria e prática. Editora Atual. 25ª edição. São Paulo, 1999. pgs. 492-501.
SANT’ANNA. Affonso Romano de. Análise estrutural de romances brasileiros. Editora Petrópolis. 7ª edição. São Paulo, 1989.
SARMENTI, Leila Lauar. Gramática em textos. Editora Moderna. 1ª edição. São Paulo, 1999. Pgs. 541-550. 

BRASIL E TANZÂNIA: DIFERENTES REALIDADES EDUCACIONAIS



A educação no Brasil tem mostrado demasiadamente suas deficiências: o modelo de ensino, o método e os locais onde se aprendem são distantes à realidade.

O sistema de ensino brasileiro foi o pior colocado em um estudo promovido pelo Banco Mundial. E para agravar a situação, em 26 de outubro de 2006 a UNESCO publicou o relatório anual "Educação para Todos" onde o país ficou na 72º posição, em um ranking de 125 países, e afirmou que com a velocidade de desenvolvimento atual, o país só atingiria o estágio presente de qualidade dos países mais avançados em 2036

Muitos podem justificar isto afirmando que o país é de terceiro mundo. Mas então se questione: como que a Tanzânia, um dos países mais pobres do mundo, com o PIB de 2007 equivalente a 1100 dólares (o Brasil com PIB de 2 bilhões de dólares no mesmo ano) conseguiu uma educação que atendeu as expectativas da população?

Segundo Julius Kambarage Nyerere (1922-1999), presidente da Tanzânia após se tornar independente do Reino Unido (1961), “deve-se fomentar os objetivos sociais e preparar as crianças e os jovens para o papel que desempenharão na sociedade”.

Foi assim que em 1961 ele resolveu investir maciçamente na educação. Para tanto, dobrou o número de escolas e garantiu que cada professor tivesse clareza das implicações educacionais através de seminários realizados em nível nacional. 

Também criou as bases de uma filosofia educacional, que tinha como objetivo a valorização da cultura, moral e a história de seu povo: se trata do projeto “Self Reliance Programme”(programa de autoconfiança) que visou o resgate da autoconfiança de cada cidadão e trouxe o idioma nativo como língua oficial dela, ou seja, preocupou-se em retomar a consciência do povo, onde todos contribuíssem na formação de jovens e crianças tanzanenses. 

Também explorou a cooperatividade nas áreas rurais, empregando uma organização baseada nos princípios do socialismo (igualdade do trabalho e remuneração conforme a produção de cada um).

O modelo de educação da Tanzânia deve ser seguido e readaptado a nossa realidade. Além disso, para que este modelo possa ser implantado no país, é necessário que haja maior proximidade e interatividade entre educadores e educandos. 

A educação deve ser levada ao aluno, e não o aluno à educação, seguindo o exemplo de Tereza Nidelcoff, educadora argentina que acredita na idéia do professor povo, (educador que está próximo do aluno, pronto para atender suas necessidades e ajudá-lo a superá-las). 

Este deve vivenciar a realidade de seus estudantes para melhor compreendê-los, ou seja, utilizar da cultura local para chamar a atenção do aluno e não deixar que este veja a sala de aula como um passa-tempo, mas como uma oportunidade para melhorar de vida.

Mas, de nada adianta haver professores capacitados se as escolas onde ensinam fogem do alcance de quem delas necessita, tanto de forma física quanto educacional, como são acompanhadas pelos jornais as grandes dificuldades que os alunos de interiores, por exemplo, tem de chegar à escola. Ás vezes precisam acordar de madrugada para chegarem cedo a aula e alguns, quando não tem um transporte público e gratuito, ainda tem de andar muitos quilômetros.

Portanto, a educação e a cultura brasileira devem ser tomadas sob uma nova perspectiva: estudar o Brasil colonial, as raízes indígenas, a cultura africana e outros assuntos concernentes à nação brasileira com mais atenção, além de investir na capacitação de professores e criar escolas com o objetivo de alfabetizar e preparar cidadãos para o futuro seria um bom começo. 

Países desenvolvidos têm suas culturas reconhecidas em todo mundo por que eles mesmos buscam resgatar os valores do seu passado histórico. O mesmo deve acontecer a esta nação, libertando-se das amarras do modelo de ensino francês e alemão, criando uma nova consciência sobre educação em âmbito nacional, para que haja verdadeiramente o reconhecimento e valorização da cultura local.

O BOM-CRIOULO: O HOMEM E A HOMOSSEXUALIDADE



    Quando falamos em homossexualismo, o que vem em mente? Para uns é algo comum, para outros é pura falta de respeito à sociedade e aos valores. Desde antes do século XIX até hoje, o que predomina é o segundo pensamento. Agora imagine: fazer uma obra para um público preconceituoso, claro que não é fácil, e ainda tratar do tema de forma naturalista, pior. Mas foi o que fez Adolfo Caminha, autor do livro “Bom-Crioulo”.

    Adolfo Ferreira Caminha nasceu em Aracati, província do Ceará, em 29 de maio de 1867. Transferido para Fortaleza, estuda as primeiras letras em casa de parentes. Na época de estudante as primeiras composições eram em prosa e em verso. Consegue entrar para a marinha e ali vê os maus-tratos diários, o que influencia na publicação de “Bom-Crioulo”. No dia 1º de janeiro de 1897, com trinta anos incompletos, ele morre e seu enterro é simples e pobre, no cemitério São Francisco Xavier. 

    O “Bom-Crioulo” é um romance naturalista. É muito criticada porque, além de ter como tema o homossexualismo, mostra o homem na sua forma animalesca: ao invés de homem e mulher as palavras macho e fêmea aparecem com freqüência.

    Amaro é um ex-escravo que se refugia na marinha, em um navio chamado corveta. É um negro alto, todo musculoso, incomparável. É de alma muito boa (daí o apelido de bom-crioulo), mas quando bebe se torna incontrolável. Lá encontra Aleixo, um rapaz branco de olhos azuis o qual preza com muito carinho, chegando a ser castigado com 150 chibatadas por Agostinho, tudo porque mexeram com “o grumete” (Aleixo). 

    Por ter um grande amor acaba conseguindo um quarto que fica na rua da misericórdia, numa pensão que é administrada por dona Carolina. Esta é uma portuguesa ex-prostituta que foi salva por Amaro há anos de ladrões. Os dois passam um ano indo a terra para se relacionarem até que Amaro é posto em outro navio de nome couraçado. Daí começa seus desencontros com Aleixo e este passa a ter um relacionamento com dona Carolina. 

    Bom-crioulo volta a beber e a ser castigado, só que desta vez vai parar no hospital. Lá ele sabe por seu amigo Herculano que Aleixo está amigado e então, enciumado foge, culminando assim no assassinato de Aleixo.

Triângulo amoroso: vértices de um triângulo escaleno - Um triângulo amoroso é composto, geralmente, por duas mulheres lutando por um homem ou dois homens lutando por uma mulher. Neste romance, acontece o inusitado: D. Carolina e Amaro lutam por Aleixo. Mas as formas que as personagens são narradas em suas relações revelam algo diferente: D. Carolina não faz papel de mulher, mas o oposto: ela o despe, chama-o para a cama, é seduzida, e Aleixo se torna uma fêmea, sabendo que uma de suas características é a feminilidade. “Era uma pena, decerto, ver aquele rosto de mulher, aquelas formas de mulher, aquela estatuazinha de mármore, entregue a mãos grosseiras de um marinheiro, de um negro...” (pg. 87).

    Aleixo também é visto assim por Amaro. Bom-Crioulo o prezou desde que se conheceram, pois o ar inocente do grumete o seduziu como uma mulher a um homem. “esse movimento indefinível que acomete ao mesmo tempo duas naturezas de sexos contrários, determinando o desejo fisiológico da posse mútua, essa atração animal que faz o homem escravo da mulher e que em todas as espécies impulsiona o macho a fêmea, sentiu-a Bom-Crioulo irresistivelmente ao cruzar a vista pela primeira vez com o grumetezinho. 

    Nunca experimentara semelhante coisa, nunca homem algum ou mulher produzira-lhe tão esquisita impressão, desde que se conhecia! Entretanto, o certo é que o pequeno, uma criança de quinze anos, abalara toda a sua alma, dominando-a, escravizando-a logo naquele mesmo instante, como a força magnética de um ímã” (pg.30).

Características naturalistas - Dentre as características, o autor faz uso de uma que choca muitos críticos: a patologia sexual. O homossexualismo é vivenciado por Bom-Crioulo e o grumete que evidenciam essa patologia. Impulsão corporal, desejo e instinto animal: por exemplo, o uso das expressões “macho e fêmea” ou “essa atração animal”.

    José Veríssimo, respeitado crítico literário, é um bom exemplo da recepção do livro: "Bom Crioulo é pior do que um mau livro: é uma ação detestável, literatura à parte.... Como quer o Sr. Adolfo Caminha que seja respeitado e estimado um homem que, sem utilidade alguma social, passou longos dias ocupado em analisar e discutir a psicologia improvável de nauseantes crimes contra a natureza, e tenta depois com isso despertar em nós o arrepio da curiosidade impura e mórbida?" (citado em Howes, 44) 

    Valentim Magalhães, editor da influente revista A Semana, escreveu: 

"Ora, o Bom-Crioulo excede tudo quanto se possa imaginar de mais grosseiramente imundo. ... não é um livro travesso, alegre, patusco, contando cenas de alcova ou de bordel. ... é um livro ascoroso, porque explora - primeiro a fazê-lo, que eu saiba - um ramo de pornografia até hoje inédito por inabordável, por antinatural, por ignóbil. Não é pois somente um livro falsandé: é um livro podre; é o romance-vômito, o romance-poia, o romance-pus. ... Este moço é um inconsciente, por obcecação literária ou perversão moral. Só assim se pode explicar o fato de haver ele achado literário tal assunto, de ter julgado que a história dos vícios bestiais de um marinheiro negro e boçal podia ser literariamente interessante. ... Provavelmente o Sr. Caminha já foi embarcadiço, talvez grumete como seu louro Aleixo - o que ignoro. (citado em Howes, 43, Azevedo, 122-3).

    Não só na época em que foi publicada como também na atualidade muitos que a lêem e acham uma obra “nojenta” e “ridícula”. O fato de Adolfo Caminha tê-la escrita em pleno período naturalista nos ajuda a entender o porquê do homem ser descrito de tal forma. 

    Ele o mostra de maneira tão diferente do romantismo, por exemplo, que muitos amantes deste período acabam acusando a obra. Adolfo Caminha teve muita coragem ao escrevê-la, pois, mesmo sabendo que ela não seria bem aceita pela sociedade, fez com que chegasse ao povo e se tornasse repercutida.

Formação da literatura nacional: comentário fundamentado nas obras de Roncari e Cândido


    De acordo com Roncari, a literatura que chamamos hoje de brasileira, é na verdade o legado deixado por uma longa tradição literária do ocidente, mas que se confrontando com uma cultura aqui existente resultou em outra forma de arte que floresceu a partir dos conflitos e das tensões decorrentes do choque dessas culturas tão diferenciadas. No plano prático trata-se rigorosamente da transposição da cultura e da arte do colonizador sobre o colonizado. Cândido, afirma:

    A história da literatura é em grande parte a história de uma imposição cultural que foi aos poucos gerando expressão literária diferente, embora em correlação estreita com os centros civilizadores da Europa.

    A literatura brasileira pode ser tomada, em certo sentido, como sendo o fruto de uma fusão entre uma tradição artística há muito estabelecida contra uma cultura diferente que fugia completamente ao modo de vida europeu e dos moldes da arte renascentista, porém a verdade é que da cultura e da arte aqui encontradas pelo europeu, pouco restou, resquícios de uma civilização cuja cultura fora suplantada, soterrada e desarraigada pelo aparelho deculturador de Portugal.

    É importante entender que, a transposição da literatura ocidental paras as terras D’além mar , era simplesmente uma parte intrínseca de um projeto de colonização que arrancou das populações, não somente a sua identidade cultural, mas todas as possibilidades de uma existência feliz em que pudessem desfrutar sua própria maneira de ser e de viver. Tudo isso aconteceu em nome da exploração de todas as riquezas naturais e minerais nestas terras existentes.

    Portanto, pode-se depreender que a formação da literatura nacional é menos a união de duas culturas distintas e que se colidiram em um processo quase dialético, contribuindo de igual modo para a identidade literária do Brasil e mais a transposição da grande produção artística ocidental sobre o modo de vida e as formas de artes aqui encontradas, constituindo quase que uma substituição de uma cultura por outra.

    A historiografia de nossa literatura entende que a obra que inaugurou a literatura brasileira foi à famosa Carta do Achamento, redigida pelo escrivão Pero Vaz de Caminha, que chegou a essas terras em uma das naus da esquadra de Pedro Álvares Cabral. Em sua carta direcionada ao rei de Portugal, caminha faz uma descrição graciosa das terras e, sobretudo das pessoas aqui encontradas e desenha uma imagem e um juízo dos homens que aqui viviam, por essa razão é conferida a este documento o status de primeira obra literária, posto que esta obra coloca o Brasil no circuito da tradição literária ocidental.

1/17/2012

PROJETO: LE CONCOURS DE FRANÇAIS






I – IDENTIFICAÇÃO:

Professora Colaboradora: Kelly Day

Professora Orientadora: Maria Leonaide Campos Soares

Estagiárias Coordenadoras: Angélica Melo da Silva;
Camila Teodosio Brito Rodrigues;
Délcio Araújo;
Edson da Conceição Silva;
Elisabeth de Almeida Vales;
Eloany dos Santos Homobono;
Ezequias de Souza Côrrea;
Jenny Pantoja Ferreira;
Jesualine da Costa Reis;
Lorenna Luanda da Rocha Braga;
Luana da Silva Lacerda;
Miriana dos Santos da Costa;
Paulo André Bentes da Rocha;
Raiane Albuquerque Silva;
Sanderlei dos Santos Barbosa;
Silvana Façanha de Souza.

II - CARACTERÍSTICAS DO PROJETO:

Especificação: Desenvolver uma prática pedagógica, voltada para a turma de 1º nível em Língua Francesa da Universidade do Estado do Amapá - UEAP.

Carga horária: 40 Horas.

Ações a serem desenvolvidas: Elaboração de uma gincana educativa tendo como tema central o desenvolvimento das competências de produção e compreensão oral/escrita.

Público alvo: Turma do 1º nível de Língua Francesa.

Campo de Execução da Prática: Hall de entrada da Universidade do Estado do Amapá – UEAP- campus 1.

III - JUSTIFICATIVA:

A proposta do Projeto “Le concours de français” foi elaborada de acordo com as necessidades observadas e vivenciadas, de acordo com a professora colaboradora, na turma do primeiro nível de Língua Francesa da Universidade do Estado do Amapá, tendo como objetivo o desenvolvimento das competências de produção e compreensão oral/escrita na Língua Francesa.
Ao estudarmos uma língua estrangeira, além de procurar entender o que o seu falante nativo diz, buscamos também reconhecer os valores que cada palavra possui, ou seja, compreender a estrutura e funcionamento da Língua Francesa para seus diversos usos no cotidiano.
Portanto, este projeto visa no sentido amplo, à integração dos discentes no contexto escolar, a participação em eventos de cunho sócio-educativo e dinâmico, a capacidade de liderança, motivação e a responsabilidade. Desta forma, esta prática pedagógica trará atrelados alguns quesitos de avaliação, para o melhor empenho e participação dos discentes, além de propiciar o uso de instrumentos essenciais para o processo de ensino/aprendizagem da língua.
Desta forma, o projeto tem como outra função estimular o interesse dos alunos pela Língua Francesa, despertar o saber cognitivo, a assimilação, o aperfeiçoamento da escrita e da fala. Com isso, para conseguirmos atingir este objetivo, faz-se necessário, o acompanhamento, a observação e a efetivação deste projeto de maneira organizada e concreta.



IV - OBJETIVOS:

Expressar-se oralmente, com espontaneidade, ritmo e boa pontuação;

Compreender e reproduzir a linguagem escrita da Língua em questão;

Associar aos elementos de linguagem oral e outros elementos de comunicação e expressão;

Incorporar palavras novas ao vocabulário ativo, dispondo delas corretamente;

Mostrar equilíbrio e autoconfiança perante um auditório;

Percepção para a utilização das competências exigidas (oral/escrita);

Desenvolver nos alunos a capacidade de raciocínio com facilidade, legibilidade e rapidez;

Utilizar todos os conhecimentos gramaticais, normativos e ortográficos em função da otimização de suas práticas sociais da Língua Francesa;

VI – METODOLOGIA:

O projeto “Le concours de français” está dividido em três momentos, sendo que, o primeiro momento consistiu na exposição teórica e argumentativa em sala de aula, pelas estagiárias, na qual, teve como apoio textos e atividades que foram repassadas no momento da regência para o entendimento e esclarecimento dos assuntos designados.
O segundo momento ocorrerá durante o processo de organização, preparação e escolha dos materiais para a gincana que será executada pelos discentes com o apoio das estagiárias e da professora - colaboradora. Essas tarefas serão realizadas no dia da prática, sendo que, cada trio de estagiárias terá que montar sua dinâmica.
O terceiro momento ocorrerá no dia da execução do projeto, sendo que, cada discentes, divididos em grupos, deverá executar suas tarefas de maneira organizada, obedecendo aos quesitos propostos no primeiro e segundo momento. Nesta fase, haverá jurados para avaliar essas tarefas específicas. Além disso, neste dia, haverá tarefas extras, como: grito de guerra, pontualidade, organização e participação.
As atividades serão todas dinâmicas, na qual, os discentes competirão para que somente um grupo saia vitoriosa, sendo que, cada grupo ficará responsável por uma gincana e, cada aluno participará de forma ativa e interativa, pois, o importante para ganhar a competição é a compreensão, à interação e ajuda mútua dos alunos na execução da gincana. Sendo assim, as atividades possuirão os seguintes nomes:
• Les couleurs du temps;
• Les vêtements;
• Montage rapidement;
• Les articles;
• Batalha da Conjugação;
Desta forma, a participação envolverá a cooperação de todos para a realização das tarefas, não esquecendo que, a organização contará como requisito de pontuação. Todas as tarefas terão como intuito perceber se houve ou não a compreensão do assunto abordado e trabalhado durante a execução da prática, já que, esta atividade tem cunho avaliativo, uma vez, que não visa somente à competição, mas também a interação e sociabilidade dos alunos com um outro tipo de cultura.

V – RECURSOS:

5.1- Humanos
Coordenadoras - Estagiárias do Curso de Letras do 7º semestre;
Discentes do primeiro nível de Língua Francesa da UEAP;
Professora - Colaboradora;

5.2 - Materiais
Para a fundamentação teórica da prática:
• Textos;
• Painéis;
• Quadro branco;
• Microsystem;
• Figuras ilustrativas;
• Pincel atômico;
• Papel 40 KG;
• Materiais decorativos;
• Materiais para a confecção das brincadeiras;


Para a execução da prática no Hall de entrada:
• Caixa de som amplificada;
• Microfones;
• Cadeiras;
• Mesas;
• Troféus;
• Brindes;
• Balões;
• Fichas de avaliação;
• Questionário de perguntas;

VII – AVALIAÇÃO:

A avaliação consistirá durante a execução do Projeto, já que, a metodologia estará dividida em três momentos, sendo assim, levaremos em consideração os seguintes critérios avaliativos:

• Participação nas atividades;
• Interesse pelas atividades;
• Cooperação em grupos;
• Criatividade e dicção;
• Postura e responsabilidade;
• Pontualidade;
• Cumprimento de todas as tarefas;
• Questão gramatical e ortográfica.


REFERÊNCIAS

CARÉ, Jean-Marc; DEBYSER, Francis. Jeu, language et criativité. Hachette.

JULIEN, Patrice. Activités Ludiques. CLE.