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7/16/2013

ANÁLISE DO LIVRO MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS, DE MANUEL ANTÔNIO DE ALMEIDA.



ANÁLISE DO LIVRO MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS, DE MANUEL ANTÔNIO DE ALMEIDA.


ENREDO

Numa viagem, rumo à colônia, Leonardo-Pataca conhece Maria das Hortaliças.Os dois se apaixonam e ao chegarem ao Brasil estabelecem matrimônio. Desse matrimônio resulta um fruto, a saber: Leonardo.
Um dia Leonardo-Patacaflagra Maria das Hortaliças com outro homem, uma briga acontece e ele resolve sair de casa, mas quando retorna descobre que a mulher fugiu com um de seus amantes. Com o fim do matrimônio, Leonardo-Pataca decide mudar de vida e abandona o filho sob os cuidados de seu padrinho, que era barbeiro e cuja barbearia ficava ao lado de sua casa.
 O padrinho almejava para Leonardo um futuro eclesiástico, porém o garotonão apresentava a mínimainclinação para o sacerdócio, ao contrário, mostrava-se bastante traquinas e avesso as coisas da Igreja. Leonardo crescia e não fazia questão de estudar e nem de trabalhar, tornando-se assim um típico malandro dos subúrbios carioca, mas as coisas mudaram quando ele conhece Luizinha, sobrinha de D. Maria, uma antiga amiga do padrinho.
Leonardo se enamora por Luizinha, cujo afeto ele tem que disputar com José Manuel, que por sua vez, está interessado na herança que Luizinha herdara de sua tia, Dona Maria. Com a ajuda de sua deseu padrinho e de sua comadreLeonardo consegue afasta José Manuel de Luizinha.
Por esse período, o padrinho de Leonardo falece, e ele se vê forçado a morar, novamente, com o pai, Leonardo Pataca, por quem foi abandonado. Certo dia,Leonardo teve uma discussão com a atual mulher de seu pai e este tomando as dores daquela, afugenta Leonardo de sua casa ameaçando mata-lo com uma espada.
Na noite em que foi expulso de casa, Leonardo reencontrou um antigo amigo com quem aprontava muitas traquinagens na Igreja, nessa ocasião, este amigo o convidou para ir morar em sua casa ao que Leonardo não demorou a aceitar.Estando na casa de seu amigo, Leonardo conhece e se apaixonapor Vidinha, todavia esse afeto com Vidinha não agradou a dois primos que tinham pretensões de com ela se casar.



Juntos, os dois primos armam uma cilada para Leonardo, eles o acusam de vadiagem e provocam uma emboscada para que Vidigal o prendesse. Vidigal prende Leonardo quando este, Vidinha e seus primos saiam para uma patuscada,porém Leonardo consegue se desvencilhar e fugir de Vidigal e seus Granadeiros quando estavam a caminho da casa da guarda.
 Depois deste incidente, Leonardoconseguiu um emprego na Ucharia Real. Por essa razão, Vidigal não pôde prendê-lo, mas ele se envolveu com a mulher do "toma-largura" epor esse motivo ele foi preso pelochefe Vidigal.
Nesse meio tempo, Luizinha casou-se com José Manuel que a tratava muito mal. Vidinha que ficou muito enciumadadecidiu tomar satisfações com a esposa do "toma-largura", porém o que acabou acontecendo é que o "toma-largura" se apaixonou por Vidinha. Enquanto isso, Leonardo se tornava policial, já que conhecia bastante da vida marginal.
Leonardo, por sua inclinação para traquinagens acabavapor ajudar os bandidos, por essa razão, foi ele preso e punido com chibatadas por Vidigal. Para conseguir a libertação de Leonardo, a comadre se uniu a Maria-Regalada, antigo amor de Vidigal, e Juntas conseguem a libertação de Leonardo e para, além disso,alcançam que ele seja promovido a sargento. Com a morte de José Manuel, Leonardo teve livre acesso para reconquistar seu primeiro amor, Luizinha e então todos viveram felizes para sempre.

PERSONAGENS


Em memórias de um sargento de milícias, os personagens são, basicamente, planos, isto quer dizer que eles não mudam seu comportamento com desenrolar dos fatos. Pode-se dizer queOs personagens deste romance se destacam por traços mais comuns ao grupo em que pertencem. As personagens, em sua grande maioria, não são mencionadas por seus nomes, e sim por seu tipo, ou profissão: toma-largura, comadre, parteira, barbeiro, primo. Neste trecho ele descreve a comadre e em nenhum momento do livro o autor fala o seu nome
Os personagens centraisda trama são: Leonardo, Luizinha, o Padrinho, a Madrinha, mas há também os secundários, e são eles: Leonardo-Pataca, Maria das Hortaliças, o major Vidigal, José Manuel, Vidinha, D. Maria.

PERSONAGENS

Leonardo

Desde criança Leonardo mostrava-se ser um perfeito vadio, pois não queria nada com os estudos e nem com trabalho. Apesar de todos os apelos do padrinho que, queria fazer dele um padre, no final das contas o garoto seguiu a sua sina de malandro, como retrata o trecho a seguir:

Digamos unicamente que durante todo esse tempo o menino não desmentiu aquilo que anunciara desde que nasceu: atormentava a vizinhança sempre com um choro em oitava alta; era colérico; tinha ojeriza particular à madrinha, a quem não podia encarar, e era estranhão até não poder mais. (pag. 17)

Luizinha

Se tratava do grande amor de Leonardo. Luizinha era órfã de pai e mãe e foi adotada pela tia, D. Maria, que conseguiu se tornar a tutora da menina após uma briga na justiça com o tio paterno dela:

Era a sobrinha de D. Maria já muito desenvolvida, porém que, tendo perdido as graças de menina, ainda não tinha adquirido a beleza de moça; era alta, magra, pálida; andava com queixo enterrado no peito, trazia as pálpebras sempre baixas e olhava a furto; tinha os braços finos e compridos; o cabelo, cortado, dava-lhe apenas até o pescoço, e como andava mal penteada e trazia a cabeça sempre baixa, uma grande porção lhe caía sobre a testa e olhos como uma viseira. (pag. 85)

O Padrinho

Era o barbeiro, cuja barbearia, ficava ao lado da casa de Leonardo-Pataca. Depois que Pataca foi abandonado por Maria das Hortaliças entregou aos cuidados do Padrinho o menino Leonardo. O padrinho era um homem bom, mas que conseguiu constituir algum patrimônio graças a um golpe que deu em um moribundo.

O capitão chamou à parte, e em segredo lhe fez entrega de uma cinta de couro e uma caixa de pau pejadas de um bom par de dobraras em ouro e prata, pedindo que finalmente as fosse entregar, apenas chegasse à terra, a uma filha sua, cuja morada lhe indicou. Além deste dinheiro, encarregou também de receber a soldada e lhe dar o mesmo destino (...). O compadre decidiu instituir-se herdeiro do capitão, e assim o fez. Eis aqui como se explica o arranjei-me (grifo do autor), e como se explicam muitos outros que vão aí pelo mundo. (pag. 46)

A Madrinha

A Madrinha era uma mulher extremamente religiosa que muito gostava de seu afilhado, Leonardo, pois por causa dele, ela fez muitas coisas, inclusive levantar uma injúria contra José Manuel para afastá-lo de Luizinha e deixar o caminho livre para Leonardo:

Era a comadre uma mulher baixa, excessivamente gorda, bonachona, ingênua ou tola até um certo ponto, e finória até outro; vivia do oficio de parteira, que adotara por curiosidade, e benzia de quebranto; todos a conheciam por muito beata e pela mais desabrida papa-missas da cidade.(pag. 38)

Leonardo-Pataca

Era o pai de Leonardo. Após ter flagrado a mulher em adultério dentro de sua própria casa, teve ainda de passar pela humilhação de saber que a esposa fugira com outro homem para Portugal. Pataca era extremamente passional e por essa razão passou por diversas provações em todos os relacionamentos.Primeiro com Maria das Hortaliças, depois com a cigana e por fim com Chiquinha.

(...) depois da fuga de Maria, e das cinzas ainda quentes de um amor mal pago nascera outro que também não foi a este respeito melhor aquinhoado; mas o homem era romântico, como se diz hoje, e babão, como se dizia naquele tempo, não podia passar sem uma paixãozinha. (pag.28)

Maria das Hortaliças

Era a esposa de Leonardo-Pataca, mãe de Leonardo, o protagonista da história. Maria das Hortaliças aparece nos primeiros capítulos. Foi pega pelo marido com outro homem e depois fugiu para Portugal com seu amante, abandonado seu filho sob os cuidados do padrinho dele.

O Major Vidigal

            O Major Vidigal era o chefe de policia, uma espécie de Xerife muito temido por causa de seus métodos empregados, que eram extremamente rigorosos e ele não fazia nenhum tipo de concessão, pois fosse quem fosse ele prenderia.

O major Vidigal era o rei absoluto, o arbitro supremo de tudo que dizia respeito a esse ramo de administração; era o juiz que julgava e distribuía a pena, e ao mesmo tempo o guarda que dava caça aos criminosos; nas causas de sua imensa alçada não havia testemunhas, nem provas, nem razões, nem processo; ele resumia tudo em si; a sua justiça (grifo do autor) era infalível; não havia apelação das sentenças que dava, fazia o que queria, e ninguém lhe tomava contas. Exercia enfim uma espécie de inquisição policial. (pag. 30)

José Manuel

            José Manuel era o pretendente de Luizinha e principal oponente de Leonardo para conquistar o amor da moça. Ele era conhecido por ser demasiado maledicente e mentiroso. Casou-se com Luizinha somente por interesse em sua herança.

Um homenzinho nascido em dias de maio, de pouco mais ou menos 35 anos de idade, magro, narigudo, de olhar vivo e penetrante, vestido de calção e meias pretas, sapatos de fivela, capote e chapéu armado (...) José Manuel era uma crônica viva, porém crônica escandalosa, (...) debaixo do mais fútil pretexto tomava a palavra, e enfiava um discurso de duas horas sobre a vida de fulano ou de beltrano. (pag. 93)

Vidinha

            Vidinha era a prima do melhor amigo de Leonardo, aquela por quem ele se apaixonou. Vidinha era de caráter sempre muito alegre, pois vivia sempre sorridente. Ela sabia cantar e tocar viola.

Vidinha era uma mulatinha de 18 a 20 anos, de altura regular, ombros largos, peito alteado, cintura fina e pés pequeninos; tinha os olhos muito pretos e muitos vivos, os lábios grossos e úmidos, os dentes alvíssimos, a fala era um pouco descansada, doce e afinada. (pag. 128)

D. Maria

            D. Maria era a tia de Luizinha e amiga do padrinho de Leonardo. Era uma mulher rica e de coração muito bom, pois ajudava aos pobres e era benfazeja, todavia ela tinha um vício considerado terrível para aqueles tempos: se tratava da mania das demandas.

D. Maria tinha bom coração, era benfazeja, devota e amiga dos pobres, porém em compensação dessas virtudes tinha um dos piores vícios daqueles tempos e daqueles costumes: era a mania das demandas. Como era rica, D. Maria alimentava este vicio largamente; as suas demandas eram o alimento da sua vida; acordada pensava nelas, dormindo sonhava com elas, raras vezes conversava em outra coisa, e apenas achava um tangente caía no assunto predileto; pelo hábito que tinha da matéria; entendia do riscado a palmo, e não havia procurador que a enganasse, sabia todos aqueles termos jurídicos e toda a marcha de modo tal que ninguém lhe levava nisso a palma. (pag.79)

TEMPO E ESPAÇO

TEMPO

Cronologicamente, a história descrita no Romance acontece no inicio do século XIX, período em que a corte portuguesa chega ao Brasil. Para tanto, basta verificar a expressão com a qual o narrador inicia a narrativa: “Era no tempo do rei” (pag. 13), numa alusão direta aorei Dom João VI. Essaexpressão é, também, uma forma que o autor encontrou para fazer lembrar, de maneira irônica,a famosa expressão utilizada para introduzir os contos de fadas, Era uma vez...

ESPAÇO

O espaço físico em que se situa a narrativa é o meio urbano brasileiro.A história se passa no Rio de Janeiro, e faz referência a seus principais pontos como igrejas, as ruas mais importantes, bem como o subúrbio carioca e para, além disso, descreve também lugares como acampamentos de ciganos. O autor faz uma descrição de um acampamento cigano.

“Moravam ordinariamente um pouco arredados das ruas populares, e viviam em plena liberdade. As mulheres trajavam com certo luxo relativo aos seus haveres: usavam muito de rendas e fitas; davam preferência a tudo quanto era encarnado, e nenhuma delas dispensava pelo menos um cordão de ouro ao pescoço; os homens não tinham outra distinção mais do que alguns traços fisionômicos particulares que os faziam conhecidos”. (pag.35)

FOCO NARRATIVO

A narraçãoda história é feita de maneira cronológica e linear, por um narrador que fala na 3º pessoa e que tem conhecimento de todas as ações dos personagens e que pode ponderar sobre o que lhes vem à mente. Em determinados momentos o narrador lança mão do discurso direto para evidenciar a maneira como falam as personagens.

Já... já... senhora intrometida com a vida alheia... já sabe o padre-nosso, e eu o faço rezar todas as noites um pelo seu defunto marido que está a esta hora dando coices no inferno!...(pag. 34)

O narrador usa de ironias para achincalhar alguns costumes da época em que é contada a história:

Ser valentão foi em algum tempo ofício no Rio de Janeiro; havia homens que viviam disso: davam pancada por dinheiro, e iam a qualquer parte armar de propósito uma desordem, contanto que se lhes pagasse, fosse qual fosse o resultado.Entre os honestos cidadãos que nisto se ocupavam(grifo meu), havia, na época desta história, um certo Chico-Juca, afamadíssimo e temível. (pag. 70)

Na contramão dos demais autores românticos, Manuel Antônio de Almeida retira o foco narrativo dos grandes salões aristocráticose direciona para as massas desfavorecidas, para o subúrbio, para a gente simples da cidade do Rio de Janeiro. A seguir se verá um trecho em que o narrador faz uma descrição do Fado, típica dança das classes baixas:

Todos sabem o que é Fado, essa dança tão voluptuosa, tão variada, que parece filha do mais apurado estudo da arte. Uma simples viola serve melhor do que instrumento algum para o efeito. O Fado tem diversas formas, cada qual mais original. Ora, uma só pessoa, homem ou mulher, dança no meio da casa por algum tempo, fazendo passos os mais dificultosos, tomando as mais airosas posições, acompanhando tudo isso com estalos que dá com os dedos, e vai depois, pouco a pouco, aproximando-lhe de qualquer que lhe agrada; faz-lhe diante algumas negaças e viravoltas, e finalmente bate palmas, o que quer dizer que a escolheu para substituir o seu lugar. (pag. 36)

Um aspecto importante na obra de Manuel Antônio de Almeida é a exaltação de personagens típicos dos subúrbios fluminenses, como o barbeiro, a parteira, o major e dessa forma eleva a história mais próxima do leitor comum. Como a obra “Memórias de um sargento de Milícias” foi escrita em capítulos, e esses capítulos foram publicados um de cada vez (folhetim) no final de alguns capítulos o autor coloca um ponto de suspense fazendo com que o leitor tenha vontade de ler o próximo capítulo, essa característica é utilizada atualmente em novelas, com a finalidade de fazer o telespectador esperar o próximo capítulo.
Apesar de ser uma obra romântica, o autor mostra uma perspectiva bem próxima da realidade e bem menos idealizada do que aquela que a maioria dos romancistasromânticos adotaram. Os problemas sociais, as atitudes dos personagens e uma visão menos idealizada do amor mostram a obra com Realismo.

CONCLUSÃO

O Romance Memórias de um sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida é uma obra ligada a escola Romântica que, todavia, apresenta características diversas como visão subjetiva da mulher anada e a vitória do primeiro amor, o amor verdadeiro, sobre as  demais paixões mundanas.
Esta obra é um romance urbano que desenvolveu temas ligados à vida social. Apesar de possuir características fundamentais do movimento romântico, a história não apresenta os exageros sentimentais comuns a esta escola, ao contrário o narrador parecer ironizar alguns procedimentos românticos, como é possível verificar:

Portanto não foram de modo algum mal recebidas as primeiras finezas as primeiras finezas de Leonardo, que desta vez se tornou muito mais desembaraçado, quer por que já o negócio com Luisinha tivesse desasnado, quer por que agora fosse a paixão mais forte, embora esta última hipótese vá de encontro a opinião dos ultrarromânticos, que põe todos os bofes pela boca pelo tal primeiro amor: no exemplo que nos dá o Leonardo, aprendam o que ele tem de duradouro. (pag. 141)

Começa-se a perceber que no livro Memórias de um Sargento de milícias existe uma forte inclinação para as temáticas realistas, pois o autor abandona a linguagem hiperbólica e a mulher e o amor já não são tão idealizados como nos demais romancesRomânticos, porém a vitória do primeiro amor, o final feliz de Luisinha e Leonardo mostra que o texto apesar de ter características realistas, ainda tem predominância o romantismo.

BIBLIOGRAFIA

ALMEIDA, Antônio Manuel de. Memórias de um sargento de milícias. Ed. São Paulo: Martin Claret, 2007.
ANDRADE, Mário de. "Introdução", in Memórias de um sargento de milícias.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 41ª. Ed. São Paulo: Cultrix, 1994.

3/01/2013

RESENHA CRITICA Maria, Lzia de, Leitura e Colheita: Livros, leitura e formação de leitores. Petrópolis, RJ: Vozes. 2002.


 
    Se forem verificados os resultados a que chegam à escola, no que toca a alfabetização dos seus alunos, as conclusões seriam as mais tristes que se poderiam prevê, pois as escolas têm lançado mão, ainda na atualidade, de métodos a muito defasados e que não correspondem mais as necessidades dos indivíduos que nela se formam, nem aos anseios do mercado de trabalho.
 
    A escola, com sua forma tradicional de ensino, têm produzido seres humanos incapazes de dar conta das atuais demandas que lhe são conferidas, pois nessa conjuntura o mercado de trabalho exige do individuo que ele seja multifacetado no exercício de sua profissão e que possa, enfim, saber administrar, gerenciar, e, sobretudo, possa saber ler o mundo a sua volta. De acordo com Luzia de Maria (2002, pág. 15)
 
    É necessário interagir com a máquina, inserir dados, reagir conforme as etapas, reagir conforme as etapas do processo, realizar a correta leitura dos elementos apresentados, ter agilidade mental para interferir com rapidez e no momento exato. Enfim para corresponder a complexidade dos novos tempos, é necessário oferecer melhor formação àqueles que vão atuar nessa sociedade.
 
    Diante de tais problemas, quais são os desafios dos atuais educadores para reverter esse quadro? A professora Luzia de Maria, no capitulo de número um, do livro Leitura e Colheita, parece vislumbrar, a partir de uma analise construtivista, alguns resultados que podem corroborar para a melhoria no processo de ensino-aprendizagem da escola atual.
 
    Num primeiro momento a autora faz uma observação bastante salutar, no que toca a necessidade das novas exigências do mercado de trabalho, pois atualmente, entende-se que aquele profissional do passado, que era capaz de apenas operar um mecanismo da produção em série sem compreender todo o sistema ao qual estava ligado, já não mais tem espaço no mercado de trabalho, pois as necessidades do mercado mudaram e com elas mudam-se também a maneira de se formarem indivíduos aptos para o pleno exercício profissional.
 
    No mercado de trabalho do passado as mudanças eram relativamente lentas o que não exigia, por parte do operário, que ele se aperfeiçoasse sempre de uma nova gama de conhecimentos para dar conta de seu labor, mas na era da Revolução técnico-informacional as coisas são diferentes, pois a agregação de novas tecnologias faz com que o operário tenha sempre que lançar mão de conhecimentos com o qual, provavelmente, sequer entrou em contato durante toda a sua vida escolar, nesse sentido, será necessário, de acordo Luiza de Maria (2002, pag. 16):
 
    Construir conhecimentos, não apenas lhes oferecendo condições propicias para tal, mas também priorizando a autonomia enquanto condição essencial para que elas, fora do espaço escolar, dêem continuidade ao processo de aprender.
 
    A autora aponta como uma provável solução para essa problemática o investimento num trabalho maciço de pós-alfabetização, um trabalho que seja capaz de colocar o aluno em contato direto com a palavra escrita, que possa fazer do aluno um produtor de textos e levá-lo a tomar gosto pela leitura e exercer seu autodidatismo em toda a sua plenitude.
 
    Para que a escola possa formar alunos empoderados de autonomia suficiente para buscarem por si próprios conhecimentos necessários a existência, será preciso que professores de todas as séries entendam que ensinar uma criança a ser produtora de textos não significa, apenas, ensiná-la a decodificar o código lingüístico e sim fazer com que ela exercite a sua liberdade de expressão através da escrita e da leitura. Segundo Luzia de Maria (2002, pág. )
 
    Mas do que nunca se cobra da escola que saia da posição de simples “transmissora” de informações e assuma a formação de crianças aptas a construir conhecimentos, não apenas lhe oferecendo condições para tal, mas também priorizando a autonomia enquanto condição essencial para que elas, fora do espaço escolar, dêem continuidade ao processo de aprender.
 
    O posicionamento de Luzia de Maria, a respeito do processo de ensino-aprendizagem, encontra base teórica em muitos autores, dentre eles Jean Piaget, que entende que a produção de conhecimento só pode acontecer, de fato, de houver interação entre agentes cognitivos de leitura e as informações que estão sendo propiciadas aos indivíduos, ou seja, só pode haver aprendizado se o aluno estiver interessado naquilo que lê, ouve ou que escreve.
Maria, Luzia de, Leitura e Colheita: Livros, leitura e formação de leitores. Petrópolis, RJ: Vozes. 2002.
 
    Se fosse possível realizar uma avaliação panorâmica da escola na atualidade a que conclusões se chegaria? Essas conclusões seriam satisfatórias? Se não, quais medidas tomar frente a essas problemáticas? No segundo capitulo do livro Leitura e Colheita a professora Luzia de Maria procura responder a estas e outras indagações que se colocam diante de todos os estudiosos que têm pensado a educação neste tempo presente.
 
    Neste capitulo, Luzia de Maria trabalha a ideia de se repensar a escola enquanto instituição que segue a um determinado padrão, de repensá-la desde sua gênese até a sua atual formação, para enfim, fazer dela um instrumento que potencialize muitas vidas através da inserção de autonomia aos alunos. Sobre a origem da instituição escolar Luzia de Maria adverte:
 
    É bom lembrar que a instituição escola nasceu sob a influência moralista dos eclesiásticos do século XVII, *notadamente marcada por um regime de severa disciplina. Regime que resultou, nos séculos XVIII e XIX, no enclausuramento do internato, submetendo a criança a normas disciplinares cada vez mais rigorosas.
 
    Em seu texto Luzia de Maria se mostra avessa a ideia de que é necessário que haja silêncio em uma sala de aula para que possa haver aprendizado, pois segundo a autora o silêncio advém de uma forma um tanto quanto repressora e intimidadora que está no cerne da instituição escolar e que nada mais é se não o legado triste e cruel da origem moralista da escola.
 
    Para haver aprendizado se faz necessário que haja o diálogo, a discussão, a reflexão e a troca de informações entre professores e alunos e entre alunos e alunos, pois em uma sala de aula aonde o único a exercer o direito de tomar a palavra é o professor, o ensino, então está seriamente comprometido, uma vez que não existe interação e sim somente a imposição de ideias que, muitas vezes, não satisfazem os anseios dos alunos. Sobre o papel do professor na transformação da escola Luzia de Maria (2002, pág. 33) afirma:
 
    Neste sentido, a escola precisa ter professores muito bem preparados, não para que se despejem erudição sobre os alunos, mas que tenham noções acerca de como a aprendizagem se dá, para que, sabiamente e, pacientemente, sejam capazes de ouvi-las. Mais que ensinar, é preciso apenas que o professor não impeça a criança de aprender, que não deixe que se perca, no quotidiano escolar, a curiosidade natural das crianças.
 
    O professor que pretende mudar a realidade da escola atual precisa ter em mente que a educação deve ser um ato de transformação social e de ruptura com as velhas estruturas opressoras do passado, isso se ela possibilitar que se ouçam as vozes dos oprimidos, daqueles a quem o aparelho repressor do estado calou por longo período, sem lhes conceder a oportunidade de argumentação, do contrário o professor será somente mais um reprodutor da velha ordem estabelecida.
 
    Luzia de Maria compreende que é preciso que o educador entenda, de uma vez por todas, que o ato de ensinar é um ato político e que cabe ao educador fazer de seu aluno um indivíduo questionador, que seja capaz de ter o senso critico suficiente para examinar o mundo a sua volta, esse respeito Luzia de Maria escreve (2002, pág.39):
 
    A educação nunca é neutra. E nunca é demais repetir: educamos para a submissão, para a obediência cega e servil. Para a manutenção das estruturas vigentes ou educamos para a emancipação, para o questionamento, para o diálogo e a cooperação, para a mudança e a transformação.
 
    Se o cotidiano escolar for marcado por uma prática antidemocrática, se os currículos, as normas, a disciplina e o relacionamento interpessoal expressarem a opressão e o autoritarismo, qualquer discurso democrático será mero engodo, pura demagogia.
 
    O educador que quiser fazer a diferença na escola precisa praticar o letramento em sua sala de aula, precisar levar o seu aluno a ter prazer pela leitura e, sobretudo, o professor que quiser fazer a mudança em sua escola precisa começar a mudar a si mesmo, tornando-se ele mesmo um leitor ávido, capaz de lê não somente aquilo que está no livro didático, mas também o que está a sua volta como uma noticia no telejornal, um pronunciamento de algum político, uma propaganda em outdoor e enfim, o mundo a sua volta, pois somente ele poderá contagiar os seus alunos.