3/01/2013

RESENHA CRITICA Maria, Lzia de, Leitura e Colheita: Livros, leitura e formação de leitores. Petrópolis, RJ: Vozes. 2002.


 
    Se forem verificados os resultados a que chegam à escola, no que toca a alfabetização dos seus alunos, as conclusões seriam as mais tristes que se poderiam prevê, pois as escolas têm lançado mão, ainda na atualidade, de métodos a muito defasados e que não correspondem mais as necessidades dos indivíduos que nela se formam, nem aos anseios do mercado de trabalho.
 
    A escola, com sua forma tradicional de ensino, têm produzido seres humanos incapazes de dar conta das atuais demandas que lhe são conferidas, pois nessa conjuntura o mercado de trabalho exige do individuo que ele seja multifacetado no exercício de sua profissão e que possa, enfim, saber administrar, gerenciar, e, sobretudo, possa saber ler o mundo a sua volta. De acordo com Luzia de Maria (2002, pág. 15)
 
    É necessário interagir com a máquina, inserir dados, reagir conforme as etapas, reagir conforme as etapas do processo, realizar a correta leitura dos elementos apresentados, ter agilidade mental para interferir com rapidez e no momento exato. Enfim para corresponder a complexidade dos novos tempos, é necessário oferecer melhor formação àqueles que vão atuar nessa sociedade.
 
    Diante de tais problemas, quais são os desafios dos atuais educadores para reverter esse quadro? A professora Luzia de Maria, no capitulo de número um, do livro Leitura e Colheita, parece vislumbrar, a partir de uma analise construtivista, alguns resultados que podem corroborar para a melhoria no processo de ensino-aprendizagem da escola atual.
 
    Num primeiro momento a autora faz uma observação bastante salutar, no que toca a necessidade das novas exigências do mercado de trabalho, pois atualmente, entende-se que aquele profissional do passado, que era capaz de apenas operar um mecanismo da produção em série sem compreender todo o sistema ao qual estava ligado, já não mais tem espaço no mercado de trabalho, pois as necessidades do mercado mudaram e com elas mudam-se também a maneira de se formarem indivíduos aptos para o pleno exercício profissional.
 
    No mercado de trabalho do passado as mudanças eram relativamente lentas o que não exigia, por parte do operário, que ele se aperfeiçoasse sempre de uma nova gama de conhecimentos para dar conta de seu labor, mas na era da Revolução técnico-informacional as coisas são diferentes, pois a agregação de novas tecnologias faz com que o operário tenha sempre que lançar mão de conhecimentos com o qual, provavelmente, sequer entrou em contato durante toda a sua vida escolar, nesse sentido, será necessário, de acordo Luiza de Maria (2002, pag. 16):
 
    Construir conhecimentos, não apenas lhes oferecendo condições propicias para tal, mas também priorizando a autonomia enquanto condição essencial para que elas, fora do espaço escolar, dêem continuidade ao processo de aprender.
 
    A autora aponta como uma provável solução para essa problemática o investimento num trabalho maciço de pós-alfabetização, um trabalho que seja capaz de colocar o aluno em contato direto com a palavra escrita, que possa fazer do aluno um produtor de textos e levá-lo a tomar gosto pela leitura e exercer seu autodidatismo em toda a sua plenitude.
 
    Para que a escola possa formar alunos empoderados de autonomia suficiente para buscarem por si próprios conhecimentos necessários a existência, será preciso que professores de todas as séries entendam que ensinar uma criança a ser produtora de textos não significa, apenas, ensiná-la a decodificar o código lingüístico e sim fazer com que ela exercite a sua liberdade de expressão através da escrita e da leitura. Segundo Luzia de Maria (2002, pág. )
 
    Mas do que nunca se cobra da escola que saia da posição de simples “transmissora” de informações e assuma a formação de crianças aptas a construir conhecimentos, não apenas lhe oferecendo condições para tal, mas também priorizando a autonomia enquanto condição essencial para que elas, fora do espaço escolar, dêem continuidade ao processo de aprender.
 
    O posicionamento de Luzia de Maria, a respeito do processo de ensino-aprendizagem, encontra base teórica em muitos autores, dentre eles Jean Piaget, que entende que a produção de conhecimento só pode acontecer, de fato, de houver interação entre agentes cognitivos de leitura e as informações que estão sendo propiciadas aos indivíduos, ou seja, só pode haver aprendizado se o aluno estiver interessado naquilo que lê, ouve ou que escreve.
Maria, Luzia de, Leitura e Colheita: Livros, leitura e formação de leitores. Petrópolis, RJ: Vozes. 2002.
 
    Se fosse possível realizar uma avaliação panorâmica da escola na atualidade a que conclusões se chegaria? Essas conclusões seriam satisfatórias? Se não, quais medidas tomar frente a essas problemáticas? No segundo capitulo do livro Leitura e Colheita a professora Luzia de Maria procura responder a estas e outras indagações que se colocam diante de todos os estudiosos que têm pensado a educação neste tempo presente.
 
    Neste capitulo, Luzia de Maria trabalha a ideia de se repensar a escola enquanto instituição que segue a um determinado padrão, de repensá-la desde sua gênese até a sua atual formação, para enfim, fazer dela um instrumento que potencialize muitas vidas através da inserção de autonomia aos alunos. Sobre a origem da instituição escolar Luzia de Maria adverte:
 
    É bom lembrar que a instituição escola nasceu sob a influência moralista dos eclesiásticos do século XVII, *notadamente marcada por um regime de severa disciplina. Regime que resultou, nos séculos XVIII e XIX, no enclausuramento do internato, submetendo a criança a normas disciplinares cada vez mais rigorosas.
 
    Em seu texto Luzia de Maria se mostra avessa a ideia de que é necessário que haja silêncio em uma sala de aula para que possa haver aprendizado, pois segundo a autora o silêncio advém de uma forma um tanto quanto repressora e intimidadora que está no cerne da instituição escolar e que nada mais é se não o legado triste e cruel da origem moralista da escola.
 
    Para haver aprendizado se faz necessário que haja o diálogo, a discussão, a reflexão e a troca de informações entre professores e alunos e entre alunos e alunos, pois em uma sala de aula aonde o único a exercer o direito de tomar a palavra é o professor, o ensino, então está seriamente comprometido, uma vez que não existe interação e sim somente a imposição de ideias que, muitas vezes, não satisfazem os anseios dos alunos. Sobre o papel do professor na transformação da escola Luzia de Maria (2002, pág. 33) afirma:
 
    Neste sentido, a escola precisa ter professores muito bem preparados, não para que se despejem erudição sobre os alunos, mas que tenham noções acerca de como a aprendizagem se dá, para que, sabiamente e, pacientemente, sejam capazes de ouvi-las. Mais que ensinar, é preciso apenas que o professor não impeça a criança de aprender, que não deixe que se perca, no quotidiano escolar, a curiosidade natural das crianças.
 
    O professor que pretende mudar a realidade da escola atual precisa ter em mente que a educação deve ser um ato de transformação social e de ruptura com as velhas estruturas opressoras do passado, isso se ela possibilitar que se ouçam as vozes dos oprimidos, daqueles a quem o aparelho repressor do estado calou por longo período, sem lhes conceder a oportunidade de argumentação, do contrário o professor será somente mais um reprodutor da velha ordem estabelecida.
 
    Luzia de Maria compreende que é preciso que o educador entenda, de uma vez por todas, que o ato de ensinar é um ato político e que cabe ao educador fazer de seu aluno um indivíduo questionador, que seja capaz de ter o senso critico suficiente para examinar o mundo a sua volta, esse respeito Luzia de Maria escreve (2002, pág.39):
 
    A educação nunca é neutra. E nunca é demais repetir: educamos para a submissão, para a obediência cega e servil. Para a manutenção das estruturas vigentes ou educamos para a emancipação, para o questionamento, para o diálogo e a cooperação, para a mudança e a transformação.
 
    Se o cotidiano escolar for marcado por uma prática antidemocrática, se os currículos, as normas, a disciplina e o relacionamento interpessoal expressarem a opressão e o autoritarismo, qualquer discurso democrático será mero engodo, pura demagogia.
 
    O educador que quiser fazer a diferença na escola precisa praticar o letramento em sua sala de aula, precisar levar o seu aluno a ter prazer pela leitura e, sobretudo, o professor que quiser fazer a mudança em sua escola precisa começar a mudar a si mesmo, tornando-se ele mesmo um leitor ávido, capaz de lê não somente aquilo que está no livro didático, mas também o que está a sua volta como uma noticia no telejornal, um pronunciamento de algum político, uma propaganda em outdoor e enfim, o mundo a sua volta, pois somente ele poderá contagiar os seus alunos.

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