9/24/2020

Sobre ser leitor!

     


    Acordo cedo, gosto de ler enquanto tomo café- café preto de preferência-, leio bastante, sou um leitor inveterado, e isso é verdade. Sei que parece meio lorota essa coisa de se autoproclamar leitor inveterado, se não soa meio lorota, mas com certeza soa meio pedante (e deve ser), principalmente nesses tempos de hiper-exposição imagética que a rede mundial de computadores nos proporciona.

Esse excesso de imagens e vídeos fez com que a gente perdesse um pouco do encanto pela palavra escrita, mas penso que o livro, em seu formato físico, vai sobreviver a essa onda, porque a palavra escrita é muito forte. Pode não parecer mas existem muito leitores, e principalmente, existem muitas pessoas que ainda são muito apegadas ao livro tradicional, entre essas pessoas, eu. 


Tentei ler um livro eletrônico, mas ainda não me acostumei. Acho bonito, acho moderno, acho ecologicamente correto, acho economicamente viável, acho que não tem desvantagem alguma, mas ainda assim não consegui me acostumar com a leitura de um texto longo na tela de um computador, ademais gosto da ideia de ter uma biblioteca na minha casa, gosto de visualizar minhas obras favoritas e meus autores prediletos, todos bem organizados na minha estante. Isso me dá uma enorme satisfação, se trata de um sonho realizado, sensação de ter dado certo na vida.


Gosto de ser um leitor compulsivo porque foi algo conquistado com muita persistência. Se tornar um leitor não é tarefa tão fácil tanto quanto a gente pensa, se trata de um trabalho que exige muita disciplina, muito esforço. As vezes é prazeroso ler um clássico, mas às vezes é puro exercício de persistência mesmo, e às vezes é um puro exercício de persistência que no final se torna muito prazeroso.


Recentemente retornei a leitura dos autores românticos. Sou professor e decidi que nesse ano vou trabalhar um pouco mais de Literatura com meus alunos, penso que é uma maneira de incentivar a leitura e também de me obrigar a não esquecer nunca dos autores clássicos.


Comecei por Gonçalves Dias. A exceção de seus poemas líricos tenho percebido como é difícil a leitura da obra poética desse autor, os poemas indianistas, sobretudo, exigem uma leitura acompanhada sempre de uma olhada no dicionário, e às vezes, o dicionário não é suficiente. Descobri a um tempo atrás que Gonçalves Dias Foi um grande estudioso das culturas indígenas, foi ele quem escreveu o primeiro dicionário da língua Tupi. Foi um profundo conhecedor daqueles povos dizimados pelos colonizadores europeus.


Os seus poemas indianistas são repletos de palavras indígenas que mal consigo compreender, mas que ainda assim acho uma grande aventura. I-Juca-Pirama, por exemplo, é um poema lindo que conta a história de um índio tupi que fora aprisionado por uma tribo inimiga, prestes a morrer em um ritual antropofágico é-lhe dado o direito de contar a sua história, mas ele prefere contar a história de seu velho pai, que junto com ele são os únicos sobreviventes da tribo.


Depois de um tempo como leitor aprendi que nem toda história tem final feliz (ainda bem) e que nem tudo são flores (ainda bem, também). Se existe alguma coisa que pode dar conta dos nossos dilemas existenciais é a arte, para mim, particularmente, a literatura. A Literatura me ajuda a suportar o caos dentro de mim, me ajuda a compreender que esse mundinho é o mesmo desde sempre e hoje percebo que sem literatura a minha vida seria inviável.


Mas quando falo de literatura, estou a falar da literatura de verdade, da literatura visceral, daquela que pode romper com as nossas perspectivas e ainda assim nos fazer mais apaixonados por ela. Não estou falando daquela Literatura daquele doutor de sei lá o quê, não estou falando daquela literatura que diz que tudo vai dar certo, que no final todos nós seremos felizes. Esse tipo de literatura não me interessa, não me comove, não me incomoda, não balança com as minhas estruturas. A mim só interessa uma literatura que pode produzir tudo isso, e mais um pouco.


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