A partir da década de 30 surge no cenário literário mundial uma linha de escritores preocupados em retratar o mundo e como ele seria num tempo futuro de maneira que este estaria tomado pela opressão de estados totalitários e governos que se sustentariam em ideologias apenas como instrumentos em favor da manutenção de seus poderes.
Entre os escritores que compõe este tipo de literatura (que se convencionou chamar distópica) estão os ingleses Aldous Huxley, George Orwell e ainda o holandês Antony Burgess, expoentes máximos dessa corrente literária. O pessimismo e visceralidade com que descreveram o futuro da humanidade se reproduzem por metáforas que se reportam a um mundo dominado pelo controle absoluto do Estado, onde as tecnologias e os saberes científicos servem aos interesses de uma elite que domina e condiciona a população, como alerta Amaro (2003).
A questão primeira a se levantar, quando se fala de literatura distópica é se os escritos de Huxley, Orwell e Burgess, configuram-se necessariamente como um movimento literário que se difere dos padrões estéticos e temáticos das vanguardas européias? Para responder a tal questionamento outras perguntas mais devem ser suscitadas, como: o que significa o termo distopia? O que é a literatura distópica? Quais as suas características? Qual (is) a principal (is) temática (s) abordada (s)? Quais as sua influências no campo literário e filosófico? Estas indagações deverão ajudar a explicar e nos fazer entender um pouco sobre essa literatura.
OBJETIVOS
Geral
Identificar a literatura distópica como um movimento literário, com suas próprias características e que a diferenciam dos padrões estéticos e temáticos das vanguardas européias.
Específicos
ü
Conhecer a importância de se estudar a literatura distópica;
Conhecer a importância de se estudar a literatura distópica;
ü Definir o termo distopia na literatura e suas características;
ü Identificar a influência da distopia no campo literário e filosófico;
ü Analisar as principais temáticas da literatura distópica.
JUSTIFICATIVA
O desejo de investigar e de discorrer sobre a literatura distópica surgiu a partir das leituras das obras “1984” de George Orwell, “Admirável mundo novo” de Aldous Huxley e de Laranja mecânica de Antony Burgess. O termo “Distopia” veio através da leitura e das análises dessas obras, posto que fosse bastante recorrente nos textos lidos, uma vez que esta palavra não muito usual fora usada pela primeira vez por um senador britânico chamado John Mil que em um discurso no parlamento inglês a utilizou para designar a idéia que se caracteriza como um contraponto à noção de Utopia, dizia Mil (1868)
"É, provavelmente, demasiado elogioso chamar-lhes utópicos; deveriam em vez disso ser chamados dis-tópicos, ou caco-tópicos. O que é comummente chamado Utopia é demasiado bom para ser praticável; mas o que eles parecem defender é demasiado mau para ser praticável."
Nesse sentido, o termo distopia significa imediatamente o reverso de utopia, pois se esta designa a idéia de um modo de vida ideal demais para se tornar realidade, já a outra representa uma metáfora caótica e horrível demais para ser praticável, contudo a distopia está de alguma forma, conectada ao mundo real. Jacoby (2010) nos fornece o conceito de Distopia:
Uma Distopia ou Antiutopia é o pensamento, a filosofia ou o processo discursivo baseado numa ficção cujo valor representa a antítese da utópica ou promove a vivência em uma "Utopia negativa”. São geralmente caracterizadas pelo totalitarismo, autoritarismo bem como um opressivo controle da sociedade. Nelas, caem-se as cortinas, e a sociedade mostra-se corruptível; as normas criadas para o bem comum mostram-se flexíveis. Assim, a tecnologia é usada como ferramenta de controle, seja do Estado, de instituições ou mesmo de corporações.
Posteriormente o termo passou a designar uma linha de escritos que abordavam uma mesma temática com as mesmas características. Ainda Russel Jacoby seleciona algumas delas, a saber:
ü Costumam ser contos morais, explorando como os nossos dilemas morais figurariam no futuro.
ü Oferecem crítica social e apresentam as simpatias políticas do autor.
ü Exploram a estupidez coletiva.
ü O poder é mantido por uma elite pela somatização e conseqüente alívio de certas carências e privações do indivíduo.
ü Discurso pessimista, raramente "flertando" com a esperança.
O livro “1984” de George Orwell é um exemplo clássico de literatura distópica, que segundo David Brin (2011) é o livro mais importante do século XX, pois:
“O grande mérito da ficção científica não é prever o futuro, mas pintar um futuro tão horrível que as pessoas vão lutar para que ele não aconteça. Neste sentido, “1984” é talvez o livro mais importante do século, porque, a qualquer sinal de tirania, a sociedade lembra-se do livro e luta para impedi-la.
É importante estudar a distopia na literatura em função de suas características, de suas peculiaridades, do ponto de vista da criticidade e das referências que ela enseja ao período histórico em que foi concebida. Se hoje consideramos que as histórias escritas por George Orwell, Aldous Huxley e Antony Burgess não passam de tramas bem elaboradas pelas mentes engenhosas e mãos hábeis desses autores é porque pertencemos a uma geração que não testemunhou o mundo à beira de um colapso humano ao passo que George Orwell tinha todas as razões para acreditar que o mundo seria exatamente como descreveu em “1984”.
Uma imagem muito clara de Orwell sobre o futuro foi a que o personagem Obrin descreveu em 1984: “Se queres uma imagem do futuro, pensa numa bota pisando um rosto humano - para sempre”. Esta frase mostra muito bem a noção Orwerliana de um futuro marcado pela opressão totalitária. Os autores da literatura distópica vivenciaram um momento histórico em que as nações degladiavam-se em combates que pareciam infindos, onde surgiam líderes autoritários que se autocultuavam como senhores absolutos de toda verdade e de todo poder político de que necessitassem, utilizando para esse fim todo o saber e cientifico e tecnologia que pudesse lhes servir.
A Literatura distópica não se resume apenas a uma denúncia dos governos totalitários do século XX, mas também a toda a nivelação da sociedade, a redução do indivíduo em peça para servir ao estado ou ao mercado através do controle total, incluindo o controle do pensamento (condicionamento psicológico).
O estudo da literatura distópica é importante porque pode colaborar em diversos campos do conhecimento humano, a saber:
HIPÓTESE
Esta pesquisa apóia-se na hipótese de que a Literatura distópica seria um movimento literário com características próprias e que, nesse sentido, se diferencia das escolas ou movimentos artísticos quando de seu surgimento.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.
Para compreender melhor o que seja a Literatura Distópica, se faz necessário atentar para a noção de Utopia, pois a Distopia nasce a partir de um contraponto ao que seja Utopia.
Utopia significa uma idéia fantasiosa e que não pode ser realizável por conta de seu caráter idealista, por isso é que Marx nomeou os primeiros defensores do socialismo de “Utópicos”, porque propunham o advento de um socialismo a partir do auto-reconhecimento da classe capitalista como opressores da classe operária, o que para o pai do comunismo não passava de uma ilusão.
Etimologicamente, o prefixo grego "ου" significa "não", a palavra grega "topos" ("τόπος"), significa lugar. Assim, utopia significa "lugar nenhum". Já o prefixo"dis" ou "dys" ("δυσ-") significa "mau", "anormal", "estranho" e a palavra grega "topos" ("τόπος"), significa lugar, logo Distopia significa “lugar mau”, “lugar anormal” ou ainda “lugar estranho”. Assim sendo é possivel inferir que a literatura distópica se refira diretamente a um “lugar estranho” no futuro. Entendido do que trata a Distopia, torna-se agora imprescindível verificar a construção histórica do surgimento deste conceito.
A origem da Utopia
Não é possível discorrer sobre a Distopia na literatura sem que antes se entenda o que é a Utopia, qual a origem dessa palavra e o que ela representa. A primeira vez que se reconheceu o termo Utopia foi no famoso livro “A República” do filosofo grego Platão, em que ele propõe uma sociedade que considerava ideal, esta sociedade vivia na “Callipolis” (cidade bela). De acordo com Jacoby (2006) esta sociedade teria as seguintes características:
Platão imagina que o Estado, e não a família, deveria se incumbir da educação das crianças. Para isso, propõe estabelecer-se uma forma de comunismo em que é eliminada a propriedade e a família, a fim de evitar a cobiça e os interesses decorrentes dos laços afetivos.
Posteriormente no livro “Utopia” de Thomas More, publicado no século XIX (aurora do capitalismo), o autor imagina uma ilha cuja forma de vida contrasta muito com a Inglaterra de seu tempo, como assinala Manoel Costa Pinto. No primeiro volume desse livro Thomas More realiza uma análise das condições de vida na Inglaterra de seu tempo e, a partir daí, começa um processo de denúncias às mazelas deixadas pelo sistema capitalista.
Já no segundo volume Thomas More imagina uma ilha que se chama Utopia- que em grego quer dizer “tal lugar não existe”. Em Utopia, não existem fábricas nem propriedade privada, todos trabalham, mas sem exageros e as jóias preciosas são brinquedos para as crianças De acordo com Pinto (2010), a visão Utópica de Thomas More é um prelúdio do socialismo Utópico que não tardaria a chegar
Já no século XIX, surgem no cenário mundial os socialistas utópicos, uma linha de pensadores inconformados com as condições de vida dos operários que viviam em um estado de verdadeira miséria nas fabricas capitalistas. Entre os socialistas utópicos, destacam-se os franceses Charles Fourier e conde de Sint. Simon. As principais mudanças reivindicadas pelo programa socialista de Fourier e Simon são a extinção da propriedade privada e a ascensão do proletariado ao poder.
Os utópicos entendiam que essas duas condições seriam realizáveis a partir do momento em que a classe capitalista se conscientizasse da sua condição de opressores e abrisse caminho para a tão sonhada ditadura do proletariado. O que no entendimento de Karl Marx é uma mera ilusão sem qualquer fundamento concreto e foram, portanto apelidados de socialistas utópicos, pois pregavam uma forma de socialismo que não poderia se viabilizar por meios práticos.
A noção de distopia surge como uma forma de desmascarar os ideais utópicos propostos por Platão em “A República”, livro em que o filósofo grego imagina uma sociedade sem propriedade privada (visão que antecipa o socialismo utópico de Charles Fourier). Platão propõe a existência de uma cidade chamada Callipolis (a cidade bela) que seria o modelo ideal de sociedade. A cidade que Platão imagina tem as seguintes características:
Partindo do princípio de que as pessoas são diferentes e por isso devem ocupar lugares e funções diversas na sociedade, Platão imagina que o estado, e não a família, deveria se incumbir da educação das crianças. Para isso propõe estabelecer-se uma forma de comunismo em que é eliminada a propriedade e a família, a fim de evitar a cobiça e os interesses decorrentes de laços afetivos.
Fazendo uma relação entre o modelo de sociedade ideal criada por Platão e a sociedade Distópica de Aldous Huxley, por exemplo, verifica-se que a única diferença entre ambas são as implicações de uma e de outra. A Distopia, como gênero literário, nasce sob o signo da 1ª e 2ª grandes guerras, conforme Pinto que destaca que a Utopia negativa ou Distopias nascem com impacto dos regimes totalitários do século XX, como uma reação e critica ao Stalinismo e Nazismo.
METODOLOGIA
Este estudo sobre a distopia na literatura está fundamentado em pesquisas bibliográficas e tem a intenção de responder à questão proposta na problemática deste pré-projeto de pesquisa.
Primeiramente será realizada a leitura de todos os livros que serão objetos de estudo desta pesquisa, ao mesmo tempo serão redigidos fichamentos dessas leituras. Em seguida será efetuada uma busca de informações na internet por meio de resenhas, resumos, artigos e documentários que ajudem na compreensão do tema. Feito isto será iniciada a leitura e fichamentos de publicações de estudiosos que se debruçaram sobre o tema proposto, entre eles: o estadunidense David Brin e o escritor estudioso brasileiro Manoel Costa Pinto.
Por último será realizado o confrontamento das idéias centrais de cada texto a partir dos estudos realizados. A pesquisa bibliográfica a ser efetuada será realizada na biblioteca da Universidade do Estado do Amapá, Biblioteca Pública do Amapá, biblioteca da Universidade Federal do Estado do Amapá, biblioteca do Tribunal de Justiça do Amapá (TJAP), demais bibliotecas da cidade de Macapá e também por intermédio de comprados e cedidos por professores.