7/16/2013

Análise do Conto da Ilha Desconhecida





                                                                SOBRE JOSÉ SARAMAGO
 
José Saramago nasceu na vila de Azinhaga, no ano de 1922. Grande parte de sua vida ele passou em Lisboa, para onde a família se mudou em 1924. Dificuldades econômicas o impediram de cursar uma universidade. Demonstrava desde cedo interesse pelos estudos e pela cultura. Formou-se numa escola técnica. O seu primeiro emprego foi de serralheiro mecânico. Fascinado pelos livros, visitava, à noite, com grande frequência, a Biblioteca Municipal Central. Faleceu no ano de 2010.

SOBRE A OBRA

O conto A Ilha desconhecida, de José Saramago, conta a história de um homem que sai em busca de conhecimento e da compreensão de si mesmo por meio de muita luta em um espaço social em que existem certos códigos que vão na contramão de tudo aquilo em que ele acredita. A realização de seus anseios mais profundos só será possível pela própria ação do personagem.
O conto A Ilha Desconhecida lembra de, certa forma, às fabulas de La Fontaine que procurava de alguma maneira dar algum ensinamento a quem os lesse. Trata-se, pois, de um canto de otimismo em que a ambição ou a obstinação fazem o sonho aportar em um lugar seguro onde a fantasia pode vir a se tornar realidade. Mais do que qualquer outra coisa, A ilha desconhecida é um cântico de exaltação da vida e da vontade de por ela lutar.
O Narrador deste conto relata a história de um rei que se distância de seus súditos através de uma máquina burocrática que revela uma sociedade estratificada e desigual. Este rei sente-se desconfortável ao aproximar-se do homem que faz a petição de um barco. 

O rei duvidou por um instante, na verdade não gostava muito de se expor aos ares da rua, mas depois reflexionou que pareceria mal, além de ser indigno da sua majestade, falar com um súdito através de uma nesga, como se tivesse medo dele, mormente estando a assistir ao colóquio a mulher da limpeza, que logo iria dizer por aí sabe Deus o quê, De par em par, ordenou. O homem que queria um barco levantou-se do degrau da porta quando começou a ouvir correr os ferrolhos, enrolou a manta e pôs-se à espera. Estes sinais de que finalmente alguém vinha atender (...) O inopinado aparecimento do rei (nunca uma tal coisa havia sucedido desde que ele andava de coroa na cabeça) causou uma surpresa desmedida, não só aos ditos candidatos mas também à vizinhança que, atraída pelo repentino alvoroço, assomara às janelas das casas, no outro lado da rua. (pag.3)

Como nos demais contos de José Saramago, neste os personagens são simples e vivem grandes aventuras após a ocorrência de um determinado evento em suas vidas, algo que aos olhos do leitor comum seria improvável de se acontecer. Como é característico de Saramago as personagens são mencionadas, não pelos seus nomes, mas por suas funções sociais, este é o caso da moça da limpeza, do homem que vai pedir um barco ao rei, do rei, do primeiro secretário, do segundo secretário, do capitão e etc.

e só quando o ressoar contínuo da aldraba de bronze se tornava, mais do que notório, escandaloso, tirando o sossego à vizinhança(...), é que dava ordem ao primeiro-secretário para ir saber o que queria o impetrante, (...) Então, o primeiro-secretário chamava o segundo-secretário, este chamava o terceiro, que mandava o primeiro-ajudante, que por sua vez mandava o segundo, e assim por aí fora até chegar à mulher da limpeza, a qual, não tendo ninguém em quem mandar, entreabria a porta das petições e perguntava pela frincha, Que é que tu queres. (pag. 01)


                O conto A ilha desconhecida pode ser entendida como uma alegoria que pode ser representada de diversas maneiras, como o encontro entre a mulher da limpeza e o homem que pedia o barco; o desejo daquele homem em ter um barco ou mesmo a coragem da mulher em querer mudar de vida ea audácia destes dois personagens.
Depois, mal o sol acabou de nascer, o homem e a mulher foram pintar na proa do barco, de um lado e do outro, em letras brancas, o nome que ainda faltava dar à caravela. Pela hora do meio-dia, com a maré, A Ilha Desconhecida fez-se enfim ao mar, à procura de si mesma. (pag. 19)

                Em O Conto da Ilha Desconhecida, o narrador descreve a necessidade de se buscar aquilo que não se pode ver, de construir o novo a partir do lugar onde nos encontramos, a partir dos sonhos e das utopias que podem estimular as ações humanas e impedir a sua completa paralisação impulsionando os indivíduos a manterem a esperança de se alcançar o novo. Essa esperança é personificada na mulher da limpeza, que decidiu sair do lugar-comum onde estava, ou seja, o castelo onde trabalhava para fazer parte da tripulação na busca da ilha desconhecida.
O que é conhecido, também é atraente, pois é cômodo, já o novo, muitas vezes, pode parecer aterrorizante e esse terror personifica na figura do grande mar tenebroso, mas o conto faz com que o leitor chegue a conclusão de que é preciso ousadia para enfrentar o desconhecido e por vezes esse desconhecido somos nós mesmos.

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