SOBRE JOSÉ SARAMAGO
José Saramago nasceu na vila
de Azinhaga, no ano de 1922. Grande parte de sua vida ele passou em Lisboa,
para onde a família se mudou em 1924. Dificuldades econômicas o impediram de
cursar uma universidade. Demonstrava desde cedo interesse pelos estudos e pela
cultura. Formou-se numa escola técnica. O seu primeiro emprego foi de
serralheiro mecânico. Fascinado pelos livros, visitava, à noite, com grande
frequência, a Biblioteca Municipal Central. Faleceu no ano de 2010.
SOBRE A OBRA
O conto A Ilha desconhecida, de José
Saramago, conta a história de um homem que sai em busca de conhecimento e da
compreensão de si mesmo por meio de muita luta em um espaço social em que
existem certos códigos que vão na contramão de tudo aquilo em que ele acredita.
A realização de seus anseios mais profundos só será possível pela própria ação
do personagem.
O conto A Ilha Desconhecida lembra
de, certa forma, às fabulas de La Fontaine que procurava de alguma maneira dar
algum ensinamento a quem os lesse. Trata-se, pois, de um canto de otimismo em
que a ambição ou a obstinação fazem o sonho aportar em um lugar seguro onde a
fantasia pode vir a se tornar realidade. Mais do que qualquer outra coisa, A
ilha desconhecida é um cântico de exaltação da vida e da vontade de por ela lutar.
O
Narrador deste conto relata a história de um rei que se distância de seus
súditos através de uma máquina burocrática que revela uma sociedade
estratificada e desigual. Este rei sente-se desconfortável ao aproximar-se do
homem que faz a petição de um barco.
O
rei duvidou por um instante, na verdade não gostava muito de se expor aos ares
da rua, mas depois reflexionou que pareceria mal, além de ser indigno da sua
majestade, falar com um súdito através de uma nesga, como se tivesse medo dele,
mormente estando a assistir ao colóquio a mulher da limpeza, que logo iria
dizer por aí sabe Deus o quê, De par em par, ordenou. O homem que queria um
barco levantou-se do degrau da porta quando começou a ouvir correr os
ferrolhos, enrolou a manta e pôs-se à espera. Estes sinais de que finalmente
alguém vinha atender (...) O inopinado aparecimento do rei (nunca uma tal coisa
havia sucedido desde que ele andava de coroa na cabeça) causou uma surpresa
desmedida, não só aos ditos candidatos mas também à vizinhança que, atraída
pelo repentino alvoroço, assomara às janelas das casas, no outro lado da rua.
(pag.3)
Como nos demais contos de José Saramago,
neste os personagens são simples e vivem grandes aventuras após a ocorrência de
um determinado evento em suas vidas, algo que aos olhos do leitor comum
seria improvável de se acontecer. Como é característico de Saramago as personagens
são mencionadas, não pelos seus nomes, mas por suas funções sociais, este é o
caso da moça da limpeza, do homem que vai pedir um barco ao rei, do rei, do
primeiro secretário, do segundo secretário, do capitão e etc.
e
só quando o ressoar contínuo da aldraba de bronze se tornava, mais do que
notório, escandaloso, tirando o sossego à vizinhança(...), é que dava ordem ao
primeiro-secretário para ir saber o que queria o impetrante, (...) Então, o
primeiro-secretário chamava o segundo-secretário, este chamava o terceiro, que
mandava o primeiro-ajudante, que por sua vez mandava o segundo, e assim por aí fora
até chegar à mulher da limpeza, a qual, não tendo ninguém em quem mandar,
entreabria a porta das petições e perguntava pela frincha, Que é que tu queres.
(pag. 01)
O conto A ilha desconhecida pode ser entendida como uma alegoria que
pode ser representada de diversas maneiras, como o encontro
entre a mulher da limpeza e o homem que pedia o barco; o desejo
daquele homem em ter um barco ou mesmo a coragem da mulher em querer mudar
de vida ea audácia
destes dois personagens.
Depois,
mal o sol acabou de nascer, o homem e a mulher foram pintar na proa do barco,
de um lado e do outro, em letras brancas, o nome que ainda faltava dar à
caravela. Pela hora do meio-dia, com a maré, A Ilha Desconhecida fez-se enfim
ao mar, à procura de si mesma. (pag. 19)
Em O Conto da Ilha Desconhecida, o narrador descreve a necessidade
de se buscar aquilo que não se pode ver, de construir o novo a partir do lugar
onde nos encontramos, a partir dos sonhos e das utopias que podem estimular as
ações humanas e impedir a sua completa paralisação impulsionando os indivíduos
a manterem a esperança de se alcançar o novo. Essa esperança é personificada na
mulher da limpeza, que decidiu sair do lugar-comum onde estava, ou seja, o
castelo onde trabalhava para fazer parte da tripulação na busca da ilha
desconhecida.
O que é
conhecido, também é atraente, pois é cômodo, já o novo, muitas vezes, pode
parecer aterrorizante e esse terror personifica na figura do grande mar
tenebroso, mas o conto faz com que o leitor chegue a conclusão de que é preciso
ousadia para enfrentar o desconhecido e por vezes esse desconhecido somos nós
mesmos.
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