Se Albert Camus estivesse vivo ele completaria hoje 100 anos de idade, mas infelizmente uma tragédia automobilística tirou a sua vida na década de 60, todavia sua obra permanece viva até os dias atuais e permanecerá viva para a posteridade, pois literatura de qualidade subsiste até mesmo ao tempo, que revela quem de fato cravou o seu nome na história da literatura. O meu primeiro contato com a produção de Camus aconteceu quando eu ainda estava na faculdade e foi por ocasião de um trabalho para uma disciplina chamada “Literatura Mundial”, disciplina esta que já não consta mais na matriz curricular do curso de Letras da UEAP, infelizmente. Confesso que quando terminei de ler os cinco primeiros capítulos de “A Queda” senti uma vontade tentadora de interromper a leitura daquele conto, pois não conseguia entender o enredo, aquele livro mais parecia um quebra-cabeça do que uma narrativa propriamente dita e em seu sentido tradicional (era a primeira vez que entrava em contato com uma história em que o autor empregava a técnica narrativa do “Fluxo de Consciência”). Me lembro de ter reclamado para a minha professora dizendo que o livro me parecia enfadonho e que eu não o entendia, porém ela, com a tranquilidade de quem sabia que uma grande descoberta estava por vir, me persuadiu a insistir naquela leitura. Continuei a ler aquele livro até o final e depois reli para capturar as nuances que me escaparam na primeira leitura e mais tarde tornei a ler para me certificar de que nada me fugiu e têm sido assim até hoje. E da primeira leitura para cá já se somam quase cinco anos e o livro “A Queda” ainda reverbera em mim como quando da primeira vez que o li. Este livro foi, sem dúvida, um divisor de águas na minha vida de leitor. Antes de “A Queda” já havia lido muitos outros livros interessantes e que fizeram aumentar o meu amor pela literatura, porém Albert Camus me mostrou algo mais, me mostrou, por exemplo, que a tristeza pode ser bonita e que existe vitalidade no pessimismo, existe pulsação no pessimismo, coisa que outrora eu, oriundo de uma família profundamente religiosa e eu mesmo muito religioso, jamais pudera conceber. Nunca conheci um personagem tão honesto em seu cinismo ou tão cínico em sua honestidade como é o protagonista de “A Queda”, o advogado Jean Baptiste Clemance que se autodenomina como sendo o “Juiz Penitente”, ou seja, aquele que condena a si próprio, mas que ao impor-se uma auto-condenação nos convoca a fazermos o mesmo. Clemance realiza uma denúncia mordaz da natureza humana ao mesmo tempo em que opera um doloroso processo de autoanálise. “A Queda” é a delação de todos nós e de todos os crimes que não constam no código penal, mas que todos os dias, praticamos. Se eu pudesse resumir este livro em uma palavra seria esta: FUNDAMENTAL.
12/17/2016
Albert Camus: Existe pulsação no pessimismo
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